O Maravilhoso Pacto, por C. H. Spurgeon

O Maravilhoso Pacto, por C. H. Spurgeon
(Sermão Nº 3326)

Pregado na quinta-feira, 31 de outubro de 1912.

Pregado por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

“Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo.” (Hebreus 8:10)

A doutrina do Pacto Divino está na raiz de toda a verdadeira teologia. Já foi dito que aquele que entende bem a distinção entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça é um mestre em Teologia. Estou convencido de que a maioria dos erros que os homens cometem sobre as doutrinas da Escritura se derivam de erros fundamentais no que diz respeito aos Pactos da Lei e da Graça. Que Deus me conceda agora o poder de instruir, e lhes conceda a graça de receber instrução sobre este assunto vital.

A raça humana na ordem da história, no que diz respeito a este mundo, em primeiro lugar ficou em sujeição a Deus sob o Pacto de Obras. Adão foi o representante do homem. Uma certa Lei foi-lhe dada. Se ele a mantivesse, ele próprio e toda a sua posteridade seria abençoada como resultado da obediência. Se ele a quebrasse, ele receberia a maldição, ele mesmo, e todos aqueles que eram representados por ele. Esse Pacto nosso primeiro pai quebrou. Ele caiu, ele não cumpriu as suas obrigações, e em sua Queda, ele envolveu a todos nós, pois estávamos todos em seus lombos, e ele nos representava perante Deus. A nossa ruína, então, foi completa antes mesmo de nascermos! Fomos arruinados por aquele que foi nosso primeiro representante. Portanto, ser salvo pelas obras da lei é impossível, porquanto sob esse Pacto já estamos perdidos. Se seremos salvos de algum modo, isto deve acontecer sob um plano bem diferente, e não sobre o plano de fazer e ser recompensado por isso, pois este plano foi testado e o representante do homem, quando foi tentado falhou por todos nós. Todos nós já falhamos em sua falha! É impossível, portanto, esperarmos obter o favor Divino por qualquer coisa que possamos fazer, ou merecermos a bênção Divina por meio de recompensa!

Mas a Divina misericórdia se interpôs e forneceu um plano de salvação da Queda. Esse plano é um outro Pacto, um Pacto feito com Cristo Jesus, o Filho de Deus, que é apropriadamente chamado pelo Apóstolo de “o segundo Adão”, porque Ele Se levantou novamente como o representante do homem. Agora, o segundo Pacto, na medida em que Cristo estava em causa, era um Pacto de Obras tanto quanto o outro! Ele era assim. Cristo veio ao mundo e perfeitamente obedeceu à Lei Divina. Ele deverá também, na medida em que o primeiro Adão quebrou a lei, sofrer a penalidade do pecado. Se Ele fizer ambos, então todos os quais Ele representa serão abençoados na Sua graça e salvos por causa de Seu mérito. Você vê, então, que, até o nosso Senhor vir a este mundo, havia um Pacto de Obras em relação a Ele. Ele teve algumas obras para executar, sob a condição de que certas bênçãos seriam concedidas a nós. Nosso Senhor manteve este Pacto! Sua parte foi cumprida até a última letra! Não há qualquer mandamento que Ele não tenha honrado. Não há nenhuma penalidade da Lei quebrada que Ele não haja suportado! Ele Se tornou um servo obediente e, sim, obediente até a morte, e morte de cruz. Ele tem, assim, feito o que o primeiro Adão não poderia fazer e Ele recuperou o que o primeiro Adão perdeu por sua transgressão. Ele estabeleceu o Pacto e, agora, ele deixa de ser um Pacto de Obras, porque todas as obras foram consumadas!

“Jesus fez todas, todas as obras,
Há muito, muito tempo atrás.”

E agora o que resta do Pacto? Deus em Sua parte solenemente Se comprometeu a dar favor imerecido a todos quantos estiveram representados em Cristo Jesus. Para todos pelos quais o Salvador morreu, estão reservadas uma quantidade ilimitada de bênçãos que serão dadas a eles, não por causa de suas obras, mas pelo dom da soberana graça de Deus, de acordo com a promessa de Seu Pacto, pelo qual eles serão salvos! Eis aí, meus irmãos e irmãs, a esperança dos filhos do homem! A esperança de salvarem a si mesmos é esmagada, pois eles já estão perdidos! A esperança de serem salvos pelas obras é uma falácia, pois não podem cumprir a lei, eles já a tem quebrado! Mas há um caminho de salvação aberto em Sua sabedoria — todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo — recebe e torna-se participante da felicidade que Cristo comprou! Todas as bênçãos que pertencem ao Pacto da Graça, por causa da obra de Cristo, pertencem também a toda alma que crê em Jesus! Àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio [Cf. Romanos 4:5], sem dúvida, receberá as bênçãos do novo Pacto da Graça!

Espero que esta explicação seja simples o suficiente. Se Adão tivesse mantido a lei, ele teria sido abençoado pelo fato de mantê-la. Porém ele transgrediu a lei e fomos amaldiçoados com ele e nele. Agora, o segundo Adão, Cristo Jesus, manteve a Lei, estamos, portanto, se somos crentes, representados em Cristo e abençoados como efeito da obediência de Jesus Cristo à vontade do Pai. Ele disse no passado: “Eis que venho para fazer a tua vontade, ó Deus! Deleito-me em fazer a tua vontade”. Ele fez a vontade de Deus e as bênçãos da graça são agora dadas gratuitamente para os filhos dos homens!

Eu pedirei a sua atenção, então, em primeiro lugar, para os privilégios do Pacto da Graça. Em segundo lugar, aos participantes dele. Isto será o suficiente, tenho certeza, para sua consideração nesta noite, durante o breve período concedido para o nosso sermão.

I. Sobre OS PRIVILÉGIOS DO PACTO DA GRAÇA.

O primeiro privilégio é que a todos quantos são participantes do Pacto será concedida a iluminação de suas mentes. “Porei a minha lei no seu interior” [Jeremias 31:33]. Por natureza, somos ignorantes quanto à vontade de Deus. A consciência preserva em nós uma espécie de recordação vaga do que a vontade de Deus era. É um monumento da vontade de Deus, mas muitas vezes é pouco legível. Um homem não se importa de lê-lo, ele é avesso ao que ele lê ali. “O seu coração insensato se obscureceu”, esta é a expressão que a Escritura [Romanos 1:21] usa para se referir à mente do homem. Mas o Espírito Santo é prometido àqueles que são participantes do Pacto. Ele virá sobre suas mentes e lançará luz, dissipando, assim, as trevas, e iluminando-os para que conheçam a vontade de Deus. O ímpio tem algum grau de luz, mas é meramente intelectual. Esta é uma luz que ele não ama. Ele ama mais as trevas do que a luz, porque as suas obras são más. Mas onde o Espírito Santo vem, Ele inunda a alma com um brilho Divino no qual a alma se deleita e deseja participar no máximo grau! Irmãos e irmãs, o homem renovado, o homem sob o Pacto da Graça, não precisa constantemente recorrer à sua Bíblia para saber o que ele deve fazer, nem ir a algum companheiro Cristão para pedir instruções, pois, agora, ele não mais tem a lei de Deus escrita em tábuas de pedra, ou em pergaminho, ou no papel, ele tem a lei escrita em sua própria mente! Há agora, um infalível Espírito Divino habitando dentro dele, que lhe diz o certo e o errado e por isso, ele rapidamente discerne entre o bem e o mal. Ele já não confunde as trevas com a luz e nem a luz com as trevas, nem confunde amargo com o doce e nem o doce com o amargo! Sua mente é esclarecida quanto à verdadeira santidade e a verdadeira pureza que Deus exige!

Basta observar os homens a quem esta Luz de Deus vem. Por natureza, alguns deles são profundamente depravados. Todos eles são depravados, mas pela prática alguns deles tornam-se ainda mais perversos. Não é maravilhoso que um pobre pagão que mal parecia reconhecer a distinção entre o certo e o errado antes que o Espírito de Deus viesse à sua mente, tenha posteriormente, sem necessidade de ser ensinado quanto a todos os preceitos, individualmente, recebido de uma vez a vívida Luz de uma terna consciência que o tem conduzido a saber o certo e a amá-lo, e a ver o mal e evita-lo? Se você quer civilizar o mundo, deve ser por pregar o Evangelho! Se você quer ter homens bem instruídos quanto ao certo e o errado, isto deve acontecer por esta Instrução Divina, que somente Deus, Ele mesmo, pode dar. “Diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior” [Jeremias 31:33], e, quão abençoadamente Ele faz isso quando toma o homem que amava o mal e o chamava de bem, e lança luz Divina em sua alma, e doravante ele não pode ser perverso, não pode ser obstinado, mas submete a si mesmo à vontade Divina! Essa é uma das primeiras bênçãos do Pacto, a saber, a iluminação do entendimento.

A próxima bênção é: “em seu coração as escreverei” [Jeremias 31:33]. Isso é mais do que conhecer a lei, infinitamente mais. “Escreverei a lei, não apenas em seus entendimentos, para que eles possam orientá-los, mas em seus corações, os quais lhes guiarão”. Irmãos e irmãs, o Espírito Santo faz com que os homens amem a vontade de Deus, leva-os a deleitarem-se em tudo que Deus Se deleita e a abominarem o que o Senhor abomina! É bem dito no texto que Deus fará isso, pois, certamente, ninguém pode fazer isso por si mesmo. Poderia antes o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas! Não é o que o ministro pode fazer, embora ele possa pregar aos ouvidos, ele não pode escrever a lei de Deus sobre as afeições. Fiquei maravilhado com a expressão utilizada no texto: “em seu coração as escreverei”. Escrever em um coração deve ser um trabalho difícil, contudo escrever em um coração, no interior do coração, quem pode fazer isso, senão Deus? Um homem faz o seu nome sobre a casca de uma árvore e lá ele está. E as letras crescem com a árvore, mas poderá ele escrever seu nome no interior da árvore? E ainda assim, Deus grava Sua vontade e Sua lei no coração e na natureza do homem!

Eu sei que noção há sobre o povo Cristão — que eles não se conformam a este ou aquele costume porque eles temem — que eles gostariam de se divertir nas vaidades do mundo, mas eles não gostariam de encontrarem-se com as penalidades. Ah, vocês filhos dos homens, vocês não compreendem a misteriosa obra do Espírito! Ele não faz nada desse tipo! Ele não faz com que o filho de Deus seja um servo, um escravo, com medo da escravidão, mas Ele muda a natureza dos homens, e então eles deixam de amar o que uma vez amaram! Eles se afastam com aversão das coisas pelas quais uma vez foram encantados e não podem mais cometer pecados que antes eram agradáveis para eles, mais do que um anjo poderia descer do Céu e chafurdar na lama com os porcos! Oh, esta é uma obra da graça! E este é um Pacto bendito, no qual se promete que nós seremos ensinados quanto ao que é correto, a conhecermos e amarmos a retidão, e a fazer o bem com um espírito voluntário!

Estou me dirigindo a alguns nesta noite que têm dito: “Eu desejo ser salvo”. O que você quer dizer com isso? Você quer dizer que você deseja escapar do Inferno? Ah, bem, eu pediria a Deus que você tivesse um outro desejo, a saber, “Oh, que eu pudesse escapar do pecado! que eu fosse feito puro, que minhas paixões fossem refreadas! Oh, que os meus desejos e meus gostos fossem mudados!”. Se esse é o seu desejo, veja que Evangelho eu tenho que pregar a vocês! Eu não vim para te dizer: faça isso, e não faço aquilo. Moisés lhe disse isso, e o pregador da Lei fala com você segundo à sua maneira, mas eu, o pregador do Evangelho, desvelando o Pacto da Graça, nesta noite lhe digo que Jesus Cristo fez tal obra pelos pecadores que Deus, agora, pelo amor de Cristo, vem a eles, e os leva a ver corretamente e por uma obra Divina sobre eles e neles, faz com que amem a santidade e sigam a justiça!

Eu anuncio esta que é uma das maiores bênçãos que uma língua poderia pronunciar! Eu prefiro ser santo do que feliz, se é que estas duas coisas podem ser separadas. Se fosse possível para um homem estar sempre triste e ainda ser puro, eu escolheria a tristeza se eu pudesse ganhar a pureza, pois, amado, ser livre do poder do pecado, e ser levado a amar a santidade, apesar de eu ter falado à maneira dos homens a você, é a verdadeira felicidade! Um homem que é santo está alinhado como o propósito da Criação, ele está em harmonia com Deus! É impossível para este homem sofrer por muito tempo. Ele pode, por um momento, sofrer por seu bem permanente, mas tão certo como Deus é feliz, o santo deve ser feliz! Este mundo não é de tal modo constituído que na longa carreira, a santidade seguirá com sofrimento, pois na eternidade, Deus mostrará que ser puro é ser abençoado, ser obediente à vontade Divina é ser eternamente glorificado! Ao pregar a você, então, essas duas bênçãos do Pacto, eu praticamente preguei a você o Reino do Céu, que está aberto a todos quantos a graça de Deus vier a olhar com os olhos da misericórdia!

A próxima bênção do Pacto é: “eu lhes serei por Deus”. Se alguém me perguntar o que isso significa, eu lhe responderei: Dê-me um mês para pensar nisso. E quando eu tivesse considerado o texto por um mês, eu pediria mais um mês! E quando eu tivesse esperado um ano, eu pediria mais um ano, e quando eu tivesse esperado até que eu ficasse grisalho, eu ainda gostaria de pedir o adiamento de qualquer tentativa de responder completamente a esta pergunta até que eu chegasse à eternidade! “Eu lhes serei por Deus”. Agora, observe isto, onde o Espírito de Deus veio para ensinar-lhe a Divina vontade e fazer com que você a ame, Deus torna-Se-lhe o quê? Um Pai? Sim, um amorável e terno Pai. Um Pastor? Sim, um guardião atento de Seu rebanho. Um Amigo? Sim, um amigo que é mais chegado do que um irmão. Uma Rocha? Um Refúgio? Uma Fortaleza? Uma Torre Alta? Um Castelo Forte? Uma Casa? Um Céu? Sim, tudo isso, mas quando Ele disse: “Eu lhes serei por Deus”, Ele quis dizer mais do que todos estes juntos, pois, “Eu lhes serei por Deus”, abrange todos os títulos da graça, todas as benditas promessas e todos os privilégios Divinos!

Isto compreendo — sim, agora eu paro, pois este é Infinito e o infinito, compreende todas as bênçãos. “Eu lhes serei por Deus”. Você precisa de provisão? O gado em mil montanhas pertence a Ele, não será nada para Ele lhe conceder! Isto não vai empobrecê-lO! Ele dará a você como Deus! Você precisa de consolo? Ele é o Deus de toda a consolação, Ele vai consolá-lo como um Senhor. Você precisa de orientação? Há sabedoria infinita esperando o seu aceno e chamada! Você precisa de auxílio? Há um poder eterno, o mesmo que guarda os montes eternos esperando por você! Você precisa de graça? Ele Se deleita na misericórdia e toda esta misericórdia é sua! Cada atributo de Deus pertence ao Seu povo, que é pactuado com Ele. Tudo o que Deus é ou pode ser — e o que não há nisto? — tudo o que você pode conceber e mais! Tudo o que está em Cristo, mesmo a plenitude infinita de Deus, tudo isso pertence a você, se você está em pacto com Deus, através de Jesus Cristo! Quão rico, abençoado, excelso, nobre são aqueles que estão pactuados com Deus, pactuados com o Céu! A Infinidade pertence a você! Levante a cabeça, ó filho de Deus, e nos gloriemos em uma promessa que eu não posso explicar, e você não pode sondar! Nós a deixaremos, por agora, pois é uma promessa muito profunda a qual nos esforçamos em vão para entender!

Observe a bênção seguinte: “E eles me serão por povo”. Toda a carne é de Deus, em certo sentido. Todos os homens são Seus por direitos de criação e Ele tem uma infinita soberania sobre eles. Mas ao olhar para os filhos dos homens Ele escolhe alguns, e diz: “Estes serão o Meu povo, não os demais. Estes serão o Meu povo peculiar”. Quando o rei de Navarra estava lutando por seu trono, o escritor que musicou a batalha diz:

“Ele olhou para os inimigos de guerra, e seu olhar era severo e altivo.
Ele olhou para o seu povo, e lágrimas estavam em seus olhos.”

E quando ele viu alguns dos franceses armados contra ele:

“Então falou gentilmente a Henry, nenhum francês é meu inimigo
Abatam, abatam todo estrangeiro, mas deixem seus irmãos irem.”

O rei olhou para o seu povo, mesmo estando eles em rebelião contra ele! Ele tinha um pensamento diferente em relação a eles do que ele tinha para com os outros. “Deixe-os ir”, ele parecia dizer: “eles são meu povo”. Então, observe, nas grandes batalhas e lutas deste mundo, quando o Senhor envia a artilharia terrível do Céu, Seu olhar é severo sobre os Seus inimigos, mas lágrimas estão em Seus olhos quando Ele olha para o Seu povo. Ele é sempre terno em relação a eles. “Poupe o meu povo”, diz Ele, e os anjos interferem para que esses escolhidos não tropecem com os seus pés em pedra!

As pessoas têm os seus tesouros, suas pérolas, suas joias, seus rubis, os seus diamantes — e estas são as suas pedras peculiares. Agora, todos no Pacto da Graça são as pedras peculiares de Deus. Ele as valoriza acima de todas as outras coisas! Na verdade, Ele mantém o mundo girando para eles! O mundo não é senão um andaime para a Igreja. Ele lançará fora a embalagem da Criação quando Seus propósitos em relação aos santos houverem findado. Sim, o sol, a lua e as estrelas passarão como trapos desgastados quando Ele reunir os Seus escolhidos e envolvê-los para sempre dentro da segurança dos muros do Céu! Para eles, o tempo se move! Para eles, o mundo existe! Ele mede a nação de acordo com o seu número e Ele faz com que as próprias estrelas do Céu lutem contra Seus inimigos e os defenda deles! “E eles me serão por povo”. O favor, que está contido em tal amor não pode ser expressado por qualquer língua. Talvez em alguns desses quietos lugares de descanso preparados para os santos, no Céu, deverá ser uma parte de nosso prazer eterno contemplar as alturas e profundidades destas linhas douradas!

II. E agora, irmãos e irmãs, eu gostaria de ter tempo para falar as outras partes contidas nos versículos 11 e 12 do capítulo, mas eu não tenho, porque tenho uma aplicação prática a fazer que consiste na seguinte pergunta: COM QUEM DEUS FEZ ESTE PACTO?

Eu disse que Ele o fez com Cristo, mas Ele o fez com Cristo como Representante do Seu povo. A pergunta hoje à noite para você, e para mim, e para cada um é: “Eu sou participante de Cristo? Será que Cristo Jesus é meu Representante?”. Agora, se eu fosse dizer que Cristo foi o Representante de todo o mundo, você não encontrará qualquer vantagem substancial nisto, devido à proporcional grande parte da humanidade que está sendo perdida, qualquer tipo de participação que eles pudessem ter em Cristo, certamente não é de nenhum valor benéfico para eles no que diz respeito à sua salvação eterna! A pergunta que faço é: tenho uma participação especial em Cristo que este Pacto sustenta em direção a mim, de modo que eu terei, ou de modo que eu agora tenho a mente iluminada, as afeições santificadas e a possessão de Deus como sendo o meu Deus? Não vos enganeis, meus irmãos e irmãs, eu não posso e você não pode virar as folhas do livro do futuro! É impossível para nós forçarmos nosso caminho para a câmara do gabinete do Eterno! Espero que não estejam iludidos pelas ideias supersticiosas de que vocês tenham tido alguma revelação, ou que tenham ouvido algum som especial ou tido um sonho que fez qualquer um de vocês pensar que é um Cristão!

Ainda assim, sobre premissas de alerta, eu tentarei ajuda-lo um pouquinho. Você já obteve qualquer uma dessas bênçãos do Pacto? Você tem uma mente iluminada? Você agora percebe que seu espírito lhe diz o que é o certo e o que é errado? Melhor ainda, você tem amor pelo que é bom? Você tem ódio pelo que é mal? Se sim, como você tem uma bênção Pacto, todo o resto virá com ela! Agora, homens e mulheres, vocês já passaram por uma grande mudança? Vocês já chegaram a odiar o que vocês uma vez amaram? Se este for o caso, o Pacto está diante de vocês assim como Canaã esteve diante dos olhos encantados de Moisés, no topo da montanha! Olhe agora, pois é seu! Dela mana leite e mel, e pertence a vocês, e vocês herdarão a terra! Mas se não houve tal mudança operada em vocês, eu não posso lhes fazer qualquer congratulação, mas agradeço a Deus que eu possa fazer o que pode lhes ser útil! Eu posso lhes apontar a direção Divina, a direção para a obtenção de uma participação neste Pacto; e verificar sua participação nele é simples. Ele está contido em poucas palavras. Observe bem essas três palavras: “Creia e viva”, pois quem crê em Cristo Jesus tem a vida eterna, que é a bênção do Pacto. O argumento é óbvio. Tendo a bênção do Pacto você deve estar no Pacto! E estando no Pacto, Cristo evidentemente deve ter te representado ficando por seu Fiador.

Mas alguém diz: “O que é crer em Cristo?”. Darei algo que é um sinônimo disso, a saber, confiança em Cristo. “Como faço para saber se Ele morreu por mim em particular?”. Confie nEle, quer você saiba se Ele morreu você em particular ou não. Jesus Cristo é levantado na cruz do Calvário como a expiação do pecado e a proclamação é feita: “Olhai, olhai, olhai e vivei!”. E quem renunciar à sua autojustiça, repudiar tudo aquilo do qual ele agora depende, e vir e confiar na obra consumada de nosso Salvador exaltado, tem, nesta própria fé, o sinal e que ele é um daqueles que estavam em Cristo quando Ele foi para a Crus, e operou a eterna redenção por Seus eleitos! Eu não acredito que Cristo morreu no madeiro para tornar os homens salváveis, mas para salvá-los! Não para que alguns homens possam ser salvos “se”, mas para realmente resgatá-los! Ali, então, Ele deu-Se como um resgate. Ali Ele pagou as dívidas deles. Lançou seus pecados no Mar Vermelho e lá fez uma limpeza de tudo o que pudesse servir de acusação contra os escolhidos de Deus. Se você crê, você é um dos Seus eleitos! Cristo morreu por você, se você crê em Deus, seus pecados estão perdoados. “Bem, mas”, diz alguém, “e quanto àquela mudança de natureza?”. Ela sempre vem com a fé! É o parente próximo à fé. Onde quer que haja uma genuína fé em Cristo, a fé opera pelo amor. Um senso da misericórdia gera afeto. Amor por Cristo gera ódio pelo pecado. O ódio ao pecado limpa a alma, e a alma sendo purificada, a vida muda!

Você não deve começar por remendar-se externamente, você deve começar com a nova vida interna e isso deve ser obtido, é o dom de Deus através da fé simples em Jesus! Um escravo que havia por algum tempo frequentando um lugar de adoração, havia assimilado a ideia, uma ideia muito natural, de que ele foi salvo porque havia sido batizado. Ele tinha ido a um desses lugares onde ensinam as crianças a repetirem essa fórmula: “No meu batismo, no qual eu fui feito um membro de Cristo, filho de Deus, e um herdeiro do reino dos céus”. “Agora”, disse ele, de forma muito simples e muito claramente, pois assim o catecismo ensina — e esta é uma grande ilusão — “Estou salvo, porque eu fui batizado! O Batismo fez de mim um filho de Deus”. Agora, o bom homem que tentou instruí-lo melhor não poderia encontrar nenhuma metáfora para se adequar ao seu intelecto melhor do que levá-lo para a cozinha e mostrando-lhe uma garrafa de tinta preta. “Agora”, ele disse, “Eu vou lavá-la”, e ele lavou o exterior da garrafa e convidou o homem a beber dela porque ela estava limpa. “Não”, disse o homem, “ela está cheia de tinta! Ainda está suja, e não está limpa porque você lavou somente o exterior”. “Ah”, disse ele, “e assim acontece com você! Tudo o que essas gotas de água poderia fazer por você, tudo que o Batismo poderia fazer por você é lavar o seu exterior, mas isso não faz com que você fique limpo, pois a sujeira está toda em seu interior”. Agora, a obra do Pacto da Graça não é lavar o exterior, nem limpar a carne, nem fazer com que você passe por ritos, cerimônias e mãos episcopais, mas a obra do Pacto da Graça é lavar o interior, purgar o coração, purificar os sinais vitais e renovar a alma, e esta é a única salvação, sem a qual nenhum homem jamais entrará no Céu! Você pode ir hoje à noite e renunciar a todos os seus vícios exteriores — e eu espero que você faça isto. Você pode ir e praticar todas as cerimônias da igreja. E se elas são bíblicas, eu desejo que você as faça, mas elas não farão nada por você, absolutamente nada a respeito de sua entrada no Céu, caso você perca uma outra coisa, ou seja, que fique sem receber a bênção pactual da natureza renovada, que só pode ser obtida como um dom de Deus através de Jesus Cristo, e como o resultado de uma fé simples nAquele que morreu sobre o madeiro!

Eu insto para que todos vocês se autoexaminem. Eu lhes pressiono com sinceridade, vocês que são membros da Igreja. É inútil você ter sido batizado! É inútil que você tome o sacramento. Que proveito há? Na verdade, devem trazer uma maior responsabilidade e uma maldição sobre você, a menos que seus corações tenham sido feitos novos pelo Espírito Santo, segundo a promessa do Pacto! Se você não tiver um coração novo, vá para seu quarto, caia sobre os seus joelhos e clame a Deus por isso! Que o Espírito Santo o leve a fazer isso! E enquanto você está suplicando, lembre-se que o novo coração vem do coração sangrante, a mudança na natureza vem da natureza agonizante. Você deve olhar para Jesus, e olhando para Jesus, sabemos que:

“Há vida em um olhar para o Crucificado!
Há vida neste momento para você!”

Essas bênçãos das quais eu falei me parecem ser um grande consolo e inspiração. Elas são um grande consolo para os crentes. Você está em Pacto, meu querido irmão, mas você me diz que você é muito pobre. Mas Deus disse: “Eu lhes serei por Deus”. Portanto, você é muito rico! Um homem pode não ter um centavo no mundo, mas se ele tem um diamante, ele é rico. Portanto, se um homem não tem nem um centavo e nem um diamante, contudo, se ele tem o seu Deus, ele é rico! Ah, mas o seu casaco está esfarrapado e você não vê de onde virão os meios para renovar o seu vestuário. “Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles” [Lucas 12:27]. Você tem o mesmo Deus que os lírios, Ele vestirá assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, e não vestirá Ele muito mais a vocês, homens de pouca fé? Eu também disse que essas bênçãos são uma inspiração, e eu acho que sejam. Elas são uma inspiração para todos nós para trabalharmos para Cristo, porque temos a certeza de ter alguns resultados. Eu desejo, de fato, eu desejo que as nações fossem convertidas a Cristo. Eu gostaria que toda a Londres pertencesse ao meu Senhor e Mestre, e que todas as ruas fossem habitadas por aqueles que amam o Seu nome! Mas quando eu vejo pecado abundante e o Evangelho muitas vezes sendo derrotado, eu caio para trás sobre estas palavras: “Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus” [2 Timóteo 2:19]. Deus terá aqueles que são Seus!

Os poderes infernais não roubarão a Cristo! Ele verá o fruto do trabalho da Sua alma, e ficará satisfeito! O Calvário não significa derrota! Getsêmani uma derrota? Impossível! O Homem Poderoso que foi levantado na cruz para sangrar e morrer por nós, sendo também o Filho de Deus, não será derrotado, mas vitorioso! Ele verá a Sua posteridade, prolongará os Seus dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na Sua mão! Se alguns não forem salvos, outros serão. Se, ao serem convidados, alguns não se consideram dignos de ir à festa, outros serão trazidos, até os cegos, os aleijados e os coxos — e a ceia ficará cheia de convidados! Se eles não vêm da Inglaterra, eles virão do Oriente e do Ocidente, do norte e do sul. Há de acontecer que enquanto Israel não for reunida, eis que as nações serão reunidas a Cristo! A Etiópia estenderá os braços! Sinim entregar-se-á ao Redentor! O deserto uivante dobrará os joelhos e o estrangeiro remoto perguntará por Cristo! Oh, não, amado, os propósitos de Deus não serão frustrados! A vontade eterna de Deus não será derrotada! Cristo morreu uma morte gloriosa e terá plena recompensa por toda a Sua dor. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” [1 Coríntios 15:58].

***

EXPOSIÇÃO DE C. H. SPURGEON

Romanos 5:1-11

Romanos 5:1. Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. O Evangelho está cheio de “pois”, ele está acima da razão, mas nunca é contra a razão, é a coisa mais razoável debaixo do Céu! “Tendo sido, pois” — é uma questão de argumento. Você terá que ler os capítulos anteriores para ver como esta conclusão decorre naturalmente do que tinha sido ensinado antes pelo Espírito Santo.

Vamos passar algum tempo nessas sentenças, enquanto os lemos: “justificados pela fé”. É assim? Você está, de fato justificado apenas pela fé em Jesus Cristo, sua Justiça? Então, você tem a paz neste dia e hora, a paz dentro de sua própria consciência e com seus semelhantes, mas o que é muito melhor, você tem paz com Deus! Assim que somos justificados pela confiança em Jesus, deixamos de ter qualquer desavença com Deus e Ele passa a não ter nada contra nós! Somos aliados, estamos em união feliz, temos paz com Deus! Não deve tê-lo por isso ou aquilo, mas temos agora como nossa posse presente e feliz possessão, pois temos sido justificados pela fé. Estamos agora no gozo de perfeita paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. “Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes”. Uma vez que estamos em paz com Deus, podemos entrar em Sua casa. Sua porta está aberta para nós, temos boas-vindas à Sua Divina graça e permanecemos nela — permanecemos nela com certeza e garantia total!

2. Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Oh, que conforto este é nos alegrarmos, especialmente nos gloriarmos na esperança! É melhor adiante — pode haver nuvens e escuridão aqui, mas podemos ver a luz do sol ali raiando — “até que o dia amanheça e fujam as sombras”, temos a esperança de manter nossa chama brilhante do Senhor! Nos “gloriamos na esperança da glória de Deus, e não somente isto”. Quando uma vez entramos na cada de Deus, nos erguemos mais alto nisso — subimos outro par de escadas. “E não somente isto”, embora parece ser o suficiente nos gloriarmos na esperança da glória de Deus, e termos acesso à Sua graça e ter paz com Ele, porque somos justificados! Contudo, não é só por isso: “mas também nos gloriamos nas tribulações”. Nós transformamos nossos problemas em alegria e nos gloriamos neles! Somos espiritualmente enriquecidos pela tribulação!

3, 4. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. Outra esperança, ou melhor, a mesma esperança vista de outro modo. Começamos com alegria na esperança da glória de Deus pela fé. Agora temos uma nova esperança que nasce da experiência, as coisas que já provamos e tocamos do amor de Deus criam em nós uma esperança mais radiante inferida a partir do que temos experimentado.

5, 6. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Qual é a conexão aqui? Não é esta: que o Espírito Santo nos faz sentir o que amor maravilhoso é o amor de Deus por nós, porque quando estávamos fracos, no devido tempo, Cristo morreu pelos ímpios? Amor maravilhoso! Quando estávamos sem Deus e sem Cristo, em Seu tempo, Cristo morreu por nós!

7. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Ninguém se sentiria impelido a morrer por um homem que é severa e estritamente justo. Ele pode despertar a nossa admiração, mas não o nosso afeto. Aristides, o Justo é, de fato, o último banido, os homens não podem suportar um homem cujo caráter é completamente justiça nua, pois eles próprios são geralmente muito injustos. Mas “um bom”, sucinta o nosso amor. Um homem desse caráter que é gracioso, gentil e benevolente, talvez — e este é um raro talvez — alguém pode ousar morrer por tal como este. Isso não é, todavia, muito provável.

8. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Ele fez o máximo por nós quando éramos menos merecedores disto! Oh, que amor é esse! Que seja derramado em nossos pobres corações empedernidos, e recomendado por nós a outros.

9. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Este é um argumento irresistível e deve ser o golpe mortal a toda desconfiança. Se Ele morreu por nós quando éramos injustos, Ele nos deixará perecer, agora que Ele nos fez justos e completamente justificados? Impossível!

10. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Há três pontos que reforçam o argumento aqui, o que você verá facilmente por lê-lo em seu devocional. O Senhor nosso Deus, que nos justificou quando éramos inimigos, pela morte de Seu Filho, nos salvará agora que somos amigos através da vida de Seu Filho. “E não somente isso”. Aqui nós ascendemos outra vez, é cada vez mais e mais alto, algo ainda maior, pois nunca chegamos ao fim deste registro abençoado de misericórdia e graça!

11. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação. Estamos reconciliados com Deus. Estamos perfeitamente reconciliados com Deus e nós temos neste momento, neste exato momento, uma grande alegria e prazer em Deus!

Crescendo na Graça

Nem sempre é fácil compreender a maravilhosa graça. As pessoas pensam, "se somos salvos pela graça, sem ter a necessidade de fazer obras para agradar e ganhar o favor de Deus, então que nos vai impedir de seguir pecando? Ou fazendo o que eu quiser?" As pessoas que fazem esta pergunta, ainda não perceberam que a graça de Deus nos alcança e nos liberta do pecado. Não somos mais a mesma pessoa, nem temos a mesma natureza, ainda que evite no coração as tentações e a debilidade da carne.

O cristão não é alguém que não peca, é alguém que não se agrada dele e se entristece diante do pecado que habita nele. O cristão não é uma pessoa perfeita, sem defeitos, somente é uma pessoa que acredita em Deus e deseja seguir os passos de Cristo pelo poder do Espírito Santo. É uma pessoa que está sendo transformada dia atrás dia. Por isso, diariamente, peca contra Deus, porém se arrependem e busca o auxilio do Espírito santo para ter uma vida transformada mais a imagem de Cristo.

O artigo de fé de hoje tenta responder aqueles que afirmam um cristão nunca poderia pecar depois de ser cristão. Essa ideia promove a visão errônea, sem base bíblica, de que o cristão é perfeito, sem pecado. Enquanto isto não é verdade. 

ARTIGO XVI - DO PECADO DEPOIS DA CONVERSÃO
NEM todo o pecado cometido de bom grado depois da conversão é pecado contra o Espírito Santo, e imperdoável. Por isso não deve negar-se a graça do arrependimento aos que houverem caído em pecado depois da conversão. Depois de termos recebido o Espírito Santo, podemos apartar-nos da graça recebida, e cair em pecado, e, pela graça de Deus, levantar-nos de novo, e emendar a nossa vida. Devem, portanto, ser condenados os que dizem que já não podem mais pecar enquanto viverem aqui, e os que negam a possibilidade de perdão às pessoas verdadeiramente arrependidas.

O artigo de fé hoje tenta esclarecer uma questão antiga, a qual ainda hoje precisa de resposta. No inicio do século IV, as perseguições do Imperador Romano (Diocleciano) no Norte da África fizeram que muitos cristãos acabassem rejeitando sua fé Cristã. Abraçaram o paganismo para conseguir salvar suas vidas. Isto levou a que, uma vez passado o perigo, estes cristãos pediram voltar a comunhão na Igreja. A resposta do novo Bispo eleito de Cartago, Donato, foi que eles não poderiam ser recebidos de volta; porque tinham cometido um pecado terrível, depois de ter recebido o Santo Batismo. Isto causou uma cisma entre os partidários de Donato e a posição da Igreja que defendiam a possibilidade de receber de volta aqueles que se arrependiam com coração sincero e mudança de vida.

Bispo Donato e seus seguidores não compreenderam a graça de Deus. É verdade que, uma vez convertidos, somos santos diante de Deus pelos méritos e a obra expiatória de Cristo na Cruz. No entanto, ainda estamos sido regenerados e santificados. O apóstolo Paulo escreveu, "E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é" (2 Coríntios 3:18).

Se você observa sua vida cristã, poderá perceber como Deus tem mudado sua vida através dos anos. Ele ainda está te mudando e transformando a cada dia. Esta é a maravilhosa graça de Deus. Ainda quando nos apartamos dEle, existe a possibilidade de nos arrepender e ser perdoados pelo Senhor. Deus é um Deus misericordioso e bondoso. Sempre pronto para perdoar os pecados daqueles que se arrepende dos seus erros e mostram fé em Jesus Cristo (Atos 3:19, 20).

Isto levanta a questão do pecado imperdoável. "Eu asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: é culpado de pecado eterno" (Marcos 3.28-29). Quais pecados são perdoáveis? E quais não?

A Bíblia nos mostra exemplos de pecados que são perdoados. Em 1 Coríntios 6.9-11, encontramos adúlteros que foram perdoados quando se arrependeram e mudaram de vida, recebendo o perdão de Deus. Outro caso interessante é o próprio testemunho do apóstolo Paulo que tinha recebido o perdão de Deus quando agira em ignorância contra Deus (1 Timóteo 1.13). 

Talvez, o leitor se pergunte, será que eu tenho cometido um pecado que seja imperdoável por Deus? Deixe que te pergunte qual é sua reação diante do pecado na sua vida. Você sente prazer neles? Ou deseja mudar? Não responda rapidamente, toma um momento e reflita. É verdade que temos caído no mesmo pecado em várias ocasiões, inclusive outros percebam do nosso pecado, porém se o seu coração não está endurecido contra Deus e deseja obedecer ao Senhor (Provérbios 24.16), então tenha a certeza de que não tem cometido o pecado imperdoável. 

Ainda que se senta com um sentimento de culpa pelos seus pecados presentes ou passados, isso não deve ser confundido com o fato de ter cometido o pecado imperdoável. Lembre-se as palavras do profeta Jeremias, "O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável. Quem é capaz de compreendê-lo?" (Jeremias 17:9). Deus te perdoa, se você se arrepende dos seus pecados, ainda que tenhamos um forte sentimento de culpa. "Assim saberemos que somos da verdade; e tranqüilizaremos o nosso coração diante dele quando o nosso coração nos condenar. Porque Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas" (1 João 3:19,20).

Judas foi uma das pessoas que claramente cometeu o pecado imperdoável. Ele chegou a falar sobre as necessidades dos pobres, enquanto ele roubava dinheiro (João 12.4-8). Ele estava tão perdido no seu pecado que vendeu a vida de Jesus por 30 moedas de prata. Jesus diz dele que era o filho da destruição (João 17:12). Jesus sabia que Judas nunca se arrependeria sinceramente. Em vez de confessar seu pecado a Deus, ele entregou o seu Senhor (Mateus 27:3-5; 2 Coríntios 7:10).

Aquele que tem cometido o pecado imperdoável, está tão decidido a praticar o pecado que nunca mais vai mudar sua atitude ou suas ações. Ele tem um coração endurecido pelo poder do pecado (Hebreus 3.12-13). O coração de uma pessoa assim pode ser comparado a um vaso de barro que foi para o forno. Ele não pode ser mais modificado. Seu coração se opõe a Deus de modo permanente (Isaías 45:9). Por isso, seu pecado é considerado imperdoável (Hebreus 10.26-27).

Aqueles que temos fé em Cristo e nos arrependemos sinceramente dos nossos pecados, clamando ao Espírito Santo que nos ajude a viver agradáveis ao Senhor e para a glória de Deus, podemos ter a certeza de que Ele nos não abandona e, com certeza, perdoa aquele que sinceramente deseja rejeitar as obras contrarias a lei de Deus. O mundo, talvez, não esqueça dos nossos erros passados, porém a graça de Deus nos alcança e nos limpa de toda a culpa passada para ser transformados a imagem de Cristo, dia a trás dia.

A segurança da nossa salvação está em Cristo. Nada nos pode separar do Senhor. O apóstolo Paulo escreveu assim, "Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 8.38-39). Nada te poderá separar do amor de Deus, ainda se enfrenta as lutas mais desbastadoras. Não escute seu coração, ouve a Palavra de Deus e tenha fé de que Ele vai fazer aquilo que o Senhor prometeu que ia fazer na sua vida por Cristo, para Cristo e em Cristo.


TEXTOS PARA MEDITAR

Lucas 15.11-32; Romanos 8.38-39; 2 Coríntios 2.5-11; 1 João 2.1-17.


LIVROS PARA SEGUIR CRESCENDO NA GRAÇA

LLOYD-JONES, Martyn, Salvos Desde A Eternidade, Editora PES, SP

RYLE, J.C., Santidade, Editora Fiel, SP.

YANCEY, Philip, Maravilhosa Graça, Editora Vida, SP.

ZAGARI, Mauricio, Perdão Total, Editora Mundo Cristão, SP.

Arca da Aliança encontrada na Etiópia?

Divergências quanto à veracidade da “descoberta” acirram discussões.

A notícia sobre suposta localização da Arca da Aliança na Etiópia está movimentando os meios de comunicação e a opinião de pesquisadores, inclusive de Israel, que discordam de recente revelação feita pelo Instituto de Pesquisa e Exploração em Arqueologia Bíblica (Base).
Além da controvérsia quanto ao local onde a peça estaria hoje – muito distante de Jerusalém, de onde teria sido levada –, não há prova de que se trata, de fato, da verdadeira Arca, sagrada para judeus e cristãos.
Liderado pelo americano Bob Cornuke, um ex-investigador da polícia e autor do livro “Em Busca da Arca da Aliança”, o Instituto Base diz que o resultado da pesquisa surgiu após expedições que fizeram pela Etiópia, Egito, Israel e Roma. “Uma teoria emergente indica que a Arca da Aliança foi transportada do antigo Israel e pode estar na Etiópia hoje”, declara o instituto.
Cornuke conta que a relíquia tem sido mantida sob a guarda de monges cristãos no país africano desde sua chegada, cuja data não é revelada. Ele afirma que durante suas pesquisas recebeu diversas informações que o fizeram crer tratar-se da verdadeira Arca. “Eu pude falar, através de um intérprete, com o Guardião da Arca, que me disse que nenhum outro homem além de si mesmo poderia colocar os olhos na Arca, que era um objeto absolutamente sagrado”.
Outra entrevista feita pelo presidente do Instituto Base foi com um padre de 105 anos, que já foi o administrador da igreja onde está a suposta Arca. Segundo o sacerdote, é “uma caixa de ouro com dois anjos alados no topo.” Para Cornuke, há evidências convincentes de que a Arca pode ter sido levada pelo rio Nilo para um local de descanso final nas remotas terras altas da antiga Kush – a moderna Etiópia.
O que existe de verdade, além das pesquisas e o grande interesse em encontrar a Arca da Aliança, são as controvérsias em volta da relíquia sagrada.
Controvérsias
Na opinião de religiosos judeus, tudo não passa de teoria anti-semita, já que o objeto não pode ser visto por ninguém, o que torna impossível a investigação e comprovação de sua veracidade. “Parece basear-se mais na agenda pessoal do autor, dentro da teologia da substituição, do que na arqueologia e no fato.”
A grande curiosidade por parte do público faz com que haja interesse cada vez mais crescente dos veículos em noticiar sobre achados arqueológicos dos tempos bíblicos, que acabam comprovando verdades bíblicas. No caso da Arca da Aliança, tal notícia ganhou ainda mais força e repercussão em virtude de toda a simbologia da peça e dos lugares sagrados aos quais ela remete, como o Templo de Salomão e o Monte Sinai.
Presença de Deus
A Arca da Aliança simbolizava a presença de Deus entre o povo hebreu. Era de madeira revestida de ouro, onde ficavam guardadas as duas tábuas de pedra nas quais estavam esculpidos os Dez Mandamentos da lei de Deus, dados a Moisés, além da vara de Arão e do maná (pão que descia do céu para alimentar o povo no deserto).
Peça sagrada para o povo de Deus, a arca da aliança sofreu inúmeros deslocamentos desde a peregrinação pelo deserto (quando ficou instalada no Tabernáculo), passando por diversos reinados em Israel até ter sido colocada no Templo construído pelo rei Salomão, filho de Davi. De lá foi tirada após o ataque babilônico, que culminou com a destruição do templo.

Ur Na Caldéia - Parte 3 - O crescente Fértil


Se traçarmos uma linha curva a partir do Egito ,passando pela Palestina e a Síria mediterrâneas,seguindo depois até o Tigre e o Eufrates, através da Mesopotâmia,e descendo até o Golfo pérsico,teremos uma meia - lua razoavelmente perfeita.

Há 4.000 anos , esse poderoso semicírculo ao redor do deserto da Arábia - denominado crescente fértil - abr
igava grande número de culturas e civilizações,ligadas umas às outras como pérolas de um colar. Ali foi o centro da civilização, desde a idade da pedra até a idade do ouro da cultura greco - romana .

Por volta do ano 2.000 a. C ,quanto mais o olhar se afasta do Crescente fértil, mais esparsos são os vestígios de vida civilizada e de cultura. Dir - se - ia que os povos dos outros continentes dormiam como crianças prestes a despertar.

No Mediterrâneo oriental já cintila o clarão cultural. Em Certa floresce o domínio dos reis minóicos ,fundadores da primeira potência marítima historicamente conhecida . Há mil anos já que a cidade de Micenas defende seus habitantes,e uma segunda Tróia se ergue há muito sobre as ruínas da primeira. Nos Bálcãs, entretanto,apenas começava a primitiva idade do Bronze.

Na Sardenha e na região ocidental da França,os mortos eram inumados em túmulos de pedras gigantescas , os Megalitos , a derradeira manifestação considerável da idade da Pedra.


Dr Sandro Barbosa
Arqueólogo Bíblico

A cidade de Ur na Caldéia - Parte 2 : Harã

A Bíblia afirma que Abraão e sua família saíram de Ir e foram morar em Harã( Gn 11.31 ). Essa cidade chamada Harã, era , até pouco tempo, desconhecida e não havia nenhum documento antigo que comprovasse sua existência,mas em 14 de dezembro de 1933 iniciou - se as escavações no " TELL HARIRI " e já em 23 de janeiro de 1934 foi retirada dos escombros uma estátua com um texto gravado no ombro direito . A frase , em escrita cuneiforme, foi traduzida pelo professor Parrot e dizia : " " EU SOU LAMEI - MARI ,REI DE MARI ".

Essa cidade chamada Mari ,era capital do Reino que tinha o mesmo nome ,cujos Arquivos resgatados afirmavam que as cidades de Harã e Naor eram cidades prósperas,isto por volta de 1900 a.C .

Só para se ter uma idéia do número de informações que nos chegaram graças às escavações arqueológicas em busca da cidade de Harã, foram descobertos 23.600 documentos escritos em tábuas de argila ,em escrita cuneiforme, e uma imensa fila de caminhões se formou para transportá - Las .

Essa cidade de Mari era o centro cultural na época de Abraão, e certamente influenciou muito na vida do patriarca. Inclusive, várias inscrições da Assíria e da Babilônia declaram que Mari foi a décima cidade a ser fundada depois do dilúvio.

Abraão, já velho , mandou seu servo El' azar ( Eliezer, Eleazar ) trazer uma mulher do reino de Marin,mais propriamente da cidade de Naor ( Gn 24.10 ) . Entre os nomes comuns no reino de Mari ,um nome é muito conhecido de todos nós : Abraão.
Mesmo que não se refira ao Abraão bíblico,isso vem comprovar que este nome era comum e liga o personagem bíblico àquelas terras de fato.

Dr Sandro Barbosa
Arqueólogo

A Cidade de Ur , dos Valores - Parte 1:


A primeira dúvida que havia com respeito à História de Abraão era a cidade caldaica de Ur. Qualquer pessoa intelectual dos séculos da pós - renascença,duvidava da existência desta cidade , até que alguns resquícios e antigos documentos começaram a falar....
Em 1850,o francês Champollion decifrou os hieróglifos e Rawlinson solucionou a interpretação da escrita cuneiforme. Daí por diante , a Arqueologia começou sua majestosa ascensão para trazer aos homens a verdade sobre suas origens.
Em1854 , o cônsul inglês J.E. Taylor ,em missão pelo museu britânico de Londres, iniciou as escavações na Mesopotâmia, e muitas outras expedições foram organizadas, até que em 1923 , uma expedição anglo - americana começou a trabalhar no TEL AL MUQAYYAR , e após 6 anos de pesquisas essa expedição de Wooley , descobriu um recinto sagrado com os restos de 5 templos construídos pelo rei Ur - Nammu.
Esses templos possuíam fornos para cozer pão que ,segundo o relatório de Wooley: " depois de 38 séculos podiam acender novamente o fogo ali. ".
As investigações também constataram que ainda não se conhecia a moeda cunhada , porém, Ur foi uma das cidades com as casas mais confortáveis do mundo antigo. A maioria das casas possuíam 2 andares e tinham de 13 a 14 cômodos.
Wooley escreveu sobre a Ur de Abraão: " vendo em ambiente passou Abraão a juventude ,um ambiente requintado,devemos modificar nossa concepção dos patriarcas hebreus. Abraão foi um cidadão de uma grande cidade e herdou a tradição de uma civilização antiga e altamente organizada. "
Dr Sandro Barbosa
Arqueólogo 

DESCOBERTA: PESO DA ÉPOCA DE DAVI EM JERUSALÉM.

Mais uma Descoberta Arqueológica incrível em Israel. A Cidade Santa, Jerusalém, continua surpreendendo em termos de descobertas arqueológicas, agora um peso da antiguidade está mostrando mais ao Mundo que Jerusalém de 3.000 anos atrás era judaica, exatamente como descrita nas Escrituras Sagradas. Além disso, o peso está em completa conformidade com um texto bíblico que relata o pagamento de uma taxa para os homens que visitam o santuário, neste caso, o Primeiro Templo de Jerusalém.

Um peso raro de 3.000 anos atrás foi descoberto recentemente ao norte da cidade de Davi, em Jerusalém. O peso, que corresponde aos dias do Primeiro Templo, está escrito em escrita hebraica antiga, a palavra "beka".
“uma peça(beca) para cada cabeça, isto é, meio siclo, conforme o siclo do santuário, de todo aquele que passava para os arrolados, da idade de vinte anos e acima, que foram seiscentos e três mil quinhentos e cinqüenta.”

Museu do navio da época de Jesus


Na historiografia bíblica o Megido é o lugar do último confronto entre Jesus e as forças do Anticristo, essa é basicamente a sua importância para o findar dos tempos, sua composição geológica consiste em uma colina nas dependências de Israel, alguns estudiosos afirmam que a colina foi a fundação da igreja primitiva. 

Nos dias de hoje, o sitio arqueológico do Megido é um dos carros chefes da arqueologia israelense, representa todos os períodos da história antiga de Israel. Compreender por que os exércitos do mundo se reunirão aqui exige que entendamos a história do Megido e sua importância no mundo antigo. 

Vamos apresentar algumas referências bíblicas sobre o Megido e suas passagens mais importantes: 

Josué 17:11
Em Issacar e em Aser, Manassés teve Beth-shean e suas cidades, Ibleam e suas cidades, e os habitantes de Dor e suas cidades, e os habitantes de En-dor e suas cidades, e os habitantes de Taanach e suas cidades, e os habitantes de Megido e suas cidades, o terceiro é Napetro. 

Juízes 1: 27-28
Mas Manassés não tomou posse de Beth-shean e suas aldeias, Taanach e suas aldeias, ou os habitantes de Dor e suas aldeias, ou os habitantes de Ibleam e suas aldeias, ou os habitantes de Megiddo e suas aldeias; então os cananeus persistiram em viver naquela terra. Ocorreu quando Israel se tornou forte, que colocaram os cananeus no trabalho forçado, mas eles não os expulsaram completamente. 

Juízes 5: 19-21
“Os reis vieram e lutaram; então, lutaram contra os reis de Canaã, em Taanach, perto das águas de Megido, e não levaram pilhagem em prata.” As estrelas lutaram contra o céu, de seus cursos lutaram contra Sísera. “A torrente de Kishon varreu-os, a antiga torrente, a torrente Kishon. Ó minha alma, marchar com força. 

1 Reis 9: 15-19
Agora, este é o relato do trabalho forçado que o rei Salomão impôs para construir a casa do Senhor, a sua própria casa, o Milo, o muro de Jerusalém, Hazor, Megido e Gezer. Para o faraó, o rei do Egito subiu e capturou Gezer e queimou-o com fogo, e matou os cananeus que moravam na cidade, e tinha dado como dote a sua filha, a esposa de Salomão. Então, Salomão reconstruiu Gezer e o inferior Beth-Horon. 

2 Reis 23: 29-30
Em seus dias, o faraó Neco, rei do Egito, subiu ao rei da Assíria ao rio Eufrates. O rei Josias foi ao encontro dele, e quando o faraó Neco o viu, ele o matou em Megido. Seus servos dirigiram seu corpo em uma carruagem de Megido, e o levaram a Jerusalém e o sepultaram no seu túmulo. Então o povo da terra tomou a Jeoacaz, filho de Josias, e o ungiu e o fez rei em lugar de seu pai.

Acra - A fortaleza grega que vigiava Jerusalém

Durante séculos procurou-se e especulou-se sobre a localização de um forte grego em Jerusalém. Muitos já consideravam este um dos “maiores mistérios arqueológicos de Jerusalém”. É que os gregos estiveram na cidade e aí construíram uma fortaleza chamada Acra. Todas as provas históricas apontavam para isso, mas não se sabia onde.
Agora uma equipa de arqueólogos, que escavava um parque de estacionamento há 10 anos, descobriu aquilo que parecem ser as ruínas da fortaleza grega com mais de dois mil anos. Quem o afirma é a Autoridade de Antiguidades de Israel.
Esta “descoberta é sensacional”, garantem os diretores da escavação Doron Ben-Ami, Yana Tchekhanovets e Salome Cohen, citados pela CNN. Sensacional não apenas pela antiguidade de Acra, mas também pelo que significou na Antiguidade.
Acra remete para os tempos de Antiochus IV Epiphanes ou Antíoco Epífanes, um dos líderes dos despojos do império deixado por Alexandre o Grande. No ano 167 a.C, Antiochus IV conquistou o coração e o centro do judaísmo, Jerusalém e durante o seu período de governação quaisquer manifestações religiosas judaicas foram estritamente proibidas. Era a tentativa de helenização do povo judaico, uma política que levou a que as tensões na cidade aumentassem drasticamente, o que obrigou Antiochus IV a construir a Acra para manter o controlo dos acessos ao Templo de Jerusalém, localizado no topo do Monte do Templo, com um tamanho, calcula-se, de 250 metros por 50.
Mas o domínio grego estava prestes a cair. Judas Macabeu liderou uma revolta que os dirigentes helénicos desvalorizaram. Em I Macabeus 1:33-35 já se relatava que:
“Cercaram a Cidade de David com uma grande e sólida muralha, com possantes torres, tornando-se assim ela sua fortaleza. Instalaram ali uma guarnição brutal de gente sem leis, fortificaram-se aí; e ajuntaram armas e provisões. Reunindo todos os espólios do saque de Jerusalém, ali os acumularam. Constituíram desse modo uma grande ameaça”.
Este foi o mote dado para aquela que ficou conhecida como a revolta dos Macabeus que, em 164 a.C, conseguem recuperar o controlo da cidade israelita e, mais importante, do sagrado templo. Mas a fortaleza resistiu. Não se conhece a data exata até onde Acra resistiu, mas há relatos que foi Simão que a destruiu depois de expulsar todos os seus defensores.
No entanto, no Primeiro Livro dos Macabeus, do Antigo Testamento, conta-se que Simão “fortificou a montanha do templo do lado da cidadela e habitou ali com os seus”. Ou seja, segundo este relato Simão terá mesmo vivido no forte em vez de o destruir. Por isso, a teoria mais aceite é que a fortaleza tenha caído em desuso e fosse finalmente demolida no final do século II a.C.
Esta nova descoberta pode dar respostas a todas estas perguntas e mistérios. Como explicou Doron Ben-Ami, à Fox News, durante “dezenas de anos estudiosos, arqueólogos e historiadores andaram à procura da localização da Acra e muitas, muitas localizações diferentes foram sugeridas.” A localização de Acra sempre foi “uma questão em aberto na arqueologia de Jerusalém.”
Foram também encontradas pontas de setas em bronze com o símbolo do reino de Antiochus IV estampado, oferecendo uma pista sobre as batalhas que ocorreram naquela zona.
(CLARA AMI/ISRAEL ANTIQUITIES AUTHORITY)

Ben-Ami refere ainda que esta “descoberta vai-nos permitir, pela primeira vez, reconstruir o aspeto da fortificação da cidade, em vésperas da revolta dos Macabeus.”
As escavações ainda não acabaram, esperando-se que seja possível encontrar ainda mais provas e registos sobre o período helénico em Jerusalém.



Arqueólogo revela recentes descobertas em caverna de Qumran

Em suas últimas escavações no sítio arqueológico de Qumran, o Dr. Oren Gutfeld da Universidade Hebraica de Jerusalém, encontrou pontas de flechas e lanças, panelas de cozimento inteiras, ferramentas feitas de ossos, pedaços de papiro e tiras de couro, que eram usadas para amarrar cobertas de linho.

Segundo o arqueólogo. esses são grandes sinais de que a caverna 53 ainda esconde muitos manuscritos importantes. “Todos esses achados nos mostram que pessoas que viviam seis mil anos antes de Cristo já usavam essas cavernas”, disse.

“Só na caverna número 4 de Qumran, foram encontrados cerca de 15 mil fragmentos”, lembrou. As imagens dos fragmentos recém-descobertos foram apresentadas na segunda edição do Congresso Internacional de Arqueologia Bíblica, que está acontecendo na UNASP, em São Paulo, desde o dia 15.

Gutfeld compartilhou sobre as dificuldades em realizar o trabalho no local, famoso por causa dos pergaminhos conhecidos como Manuscritos do Mar Morto. “Por lá tem muitas atividades sísmicas. Pequenos terremotos às vezes provocam a queda de muitas pedras dos tetos das cavernas”, revela.
Entre os últimos achados estão lamparinas, pratos e tigelas rituais. “Ficamos surpresos quando encontramos também restos de colchões feitos com folhas de palmeiras e restos de cerâmicas do período do segundo templo”, acrescentou.

No fundo da caverna havia uma entrada para um túnel com quatro metros de comprimento, em média. “Depois das escavações esse túnel ficou com 14 metros”, comentou.

“A princípio, não parecia haver nada de interessante por lá. Mas depois de todos esses achados, inclusive restos de pergaminho em branco, acho que em breve teremos novidades”, concluiu.

Os Manuscritos do Mar Morto são considerados os manuscritos bíblicos mais antigos do mundo. Enquanto os especialistas têm recuperado uma grande quantidade de escritos, muitos pesquisadores acreditam que há pergaminhos mais antigos à espera para serem descobertos.

501 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE


No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero, indignado com os abusos da Igreja Católica Romana, afixou na porta da catedral de Wittenberg, na Alemanha, suas 95 teses, que contestavam, entre outros assuntos, a comercialização do perdão dos pecados e a salvação por obras, fato que desencadeou a Reforma Protestante.

Em razão de sua postura teológica, Lutero foi ameaçado de excomunhão pela igreja católica, o que o levou a queimar em praça pública a bula de excomunhão emitida pelo pontífice romano. Alguns anos mais tarde, Lutero publicou seu Catecismo Menor, através do qual explica, em linguagem simples, a teologia da Reforma. Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, tendo contribuído grandemente para o acesso à Palavra de Deus pelo povo da época. Além de Lutero, reformadores como João Calvino, Ulrich Zwinglio e Martin Bucer tiveram papéis determinantes na história da Reforma Protestante.

Indubitavelmente, a Reforma trouxe grandes conquistas para a igreja, ao restituir a crença em doutrinas genuinamente bíblicas e indispensáveis à saúde da igreja, que podem ser resumidos em 5 pontos: somente a Escritura, somente a fé, somente a graça, somente Cristo e glória somente a Deus.

Após 501 anos de Reforma, grande parte da igreja desconhece esse importante acontecimento histórico, bem como suas consequências e impactos para a igreja hoje. Tendo retornado à Idade das Trevas, muitos atualmente comercializam a fé, negociam o evangelho e, como disse H. Richard Niebuhr, em sua famosa frase a respeito do liberalismo, — proclamam e adoram “um Deus sem ira, o qual trouxe homens sem pecado para um reino sem julgamento por meio de ministrações de um Cristo sem a cruz”. Em suma, desconhecem a verdade do evangelho. Nosso objetivo ao comemorar o Dia da Reforma é encorajar igrejas e ministérios a retornarem às verdades das Escrituras, através do correto conhecimento do Deus Todo-Poderoso, que por sua abundante graça, reconciliou consigo mesmo, através do sacrifício expiatório de Jesus na cruz do calvário, um povo escolhido de antemão e amado incondicionalmente.

A Reforma Protestante

A Reforma Protestante foi um movimento que começou no século XVI com uma série de tentativas de reformar a Igreja Católica Romana, e que culminou com a divisão e o estabelecimento de várias igrejas cristãs, das quais se destacam o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo.


1. Antecedentes – final da Idade Média

1.1 Os Estados Nacionais
Nos séculos que antecederam a Reforma Protestante, a Igreja não vivia em um vácuo, mas sim em um contexto político e social mais amplo com o qual tinha múltiplas interações. No final da Idade Média, houve o surgimento dos chamados “estados nacionais”, as modernas nações européias, o que representou uma grande ameaça às pretensões do papado. Na Alemanha (Sacro Império Romano), Rudolf von Hapsburg foi eleito imperador em 1273. Em 1356, um documento conhecido como Bula de Ouro determinou que cada novo imperador seria escolhido por sete eleitores (quatro nobres e três arcebispos). Havia descentralização política, isto é, o poder dos príncipes limitava a autoridade do imperador, e forte tensão entre a igreja e o estado.

Na França, houve o fortalecimento da monarquia com Filipe IV, o Belo (1285-1314). Esse rei enfrentou com êxito o poder da Igreja e dos papas e preparou a França para tornar-se o primeiro estado nacional moderno. Na Inglaterra, o parlamento reuniu-se pela primeira vez em 1295. Esse país teve um grande rei na pessoa de Eduardo I (†1307), que subjugou os nobres e enfrentou com êxito o papa na questão de impostos.

1.2 O Declínio do Papado
Este período começa com o pontificado de BonifácioVIII (1294-1303), um papa arrogante e ambicioso que entrou em confronto direto com o rei Filipe IV acerca de impostos e da autoridade papal. Bonifácio publicou três famosas bulas: Clericis Laicos, na qual reclama que os leigos sempre foram hostis ao clero; Ausculta Fili (“Escuta, filho”), dirigida ao rei francês, eUnam Sanctam (1302), denominada “o canto do cisne do papado medieval”. Irritado com as ações papais, Filipe enviou suas tropas, o papa foi preso e faleceu um mês após ser libertado.

Seguiu-se um período de crescente desmoralização do papado. Clemente V (1305-1314), um papa francês, transferiu a Cúria, ou seja, a administração da Igreja, para Avinhão, ao sul da França, no que ficou conhecido como o “Cativeiro Babilônico da Igreja” (1309-1377). Em toda parte, cresceram as críticas às extravagâncias e ao luxo da corte papal. João XXII (1316-1334) mostrou-se eficiente na cobrança de taxas e dízimos para cobrir essas despesas. Finalmente, ocorreu o chamado “Grande Cisma”, em que houve dois e posteriormente três papas rivais em Roma, Avinhão e Pisa (1378-1417). Diante dessa situação constrangedora, surgiu em toda a Europa um clamor por “reformas na cabeça e nos membros”.

1.3 O Movimento Conciliar
Durante o “Grande Cisma”, cada papa considerou-se o único legítimo e excomungou o rival. Assim, houve a necessidade de um concílio para resolver a crise. O Concílio de Pisa (1409) elegeu um novo papa, mas os outros dois recusaram-se a serem depostos, resultando em três papas ao mesmo tempo. João XXIII, o segundo papa pisano, convocou o Concílio de Constança (1414-1417), que depôs os três papas, elegeu Martinho V como único papa, decretou a supremacia dos concílios sobre o papa e condenou os pré-reformadores João Wycliff, João Hus e Jerônimo de Praga. O Concílio de Basiléia (1431-1449) reafirmou a superioridade dos concílios. Finalmente, o Concílio de Ferrara-Florença (1438-1445) tentou a união com a Igreja Ortodoxa (frustrada pela conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453) e reafirmou a supremacia papal. Essa tentativa fracassada de tornar a Igreja mais democrática e governá-la através de concílios ficou conhecida como conciliarismo.

1.4 Movimentos dissidentes
Outro aspecto desse período de efervescência foi o surgimento de alguns movimentos dissidentes no sul da França que despertaram forte oposição da Igreja Católica. Um deles foi o dos cátaros (em grego = “puros”) ou albigenses (da cidade de Albi), surgidos no século 11. Caracterizavam-se por um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, com um dualismo radical (espiritual x material) e extremo ascetismo. Foram condenados pelo 4° Concílio Lateranense em 1215 e mais tarde aniquilados por uma cruzada. Para combater esses e outros hereges, a Inquisição foi oficializada em 1233.

Outro movimento foi liderado por Pedro Valdo ou Valdes († c.1205), de Lião, cujos seguidores ficaram conhecidos como “homens pobres de Lião”. Tinham um estilo de vida comunitário, ensinavam as Escrituras no vernáculo (enfatizando o Sermão do Monte), incentivavam a pregação de leigos e de mulheres, negavam o purgatório. Condenados pelo Concílio de Verona em 1184, foram muito perseguidos, refugiando-se em vales remotos e quase inacessíveis dos alpes italianos. Mais tarde, abraçaram a Reforma Protestante, sendo assim uma das poucas Igrejas protestantes anteriores à Reforma do Século 16.

1.5 Primeiros Movimentos de Reforma
Nos séculos 14 e 15, surgiram alguns movimentos esporádicos de protesto contra certos ensinos e práticas da Igreja Medieval. Um deles foi encabeçado por João Wycliff (1325?-1384), um sacerdote e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Wycliff atacou as irregularidades do clero, as superstições (relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como a transubstanciação, o purgatório, as indulgências, o celibato clerical e as pretensões papais. Seus seguidores, conhecidos como os lolardos, tinham a Bíblia como norma de fé que todos devem ler e interpretar.

João Hus (c.1372-1415), um sacerdote e professor da Universidade de Praga, na Boêmia, foi influenciado pelos escritos de Wycliff. Definia a igreja por uma vida semelhante à de Cristo, e não pelos sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros da igreja e que o seu cabeça é Cristo, não o papa. Insistia na autoridade suprema das Escrituras. Hus foi condenado à fogueira pelo Concílio de Constança. Seus seguidores ficaram conhecidos como Irmãos Boêmios (1457) e foram muito perseguidos. Foram os precursores dos Irmãos Morávios, que veremos posteriormente, outro grupo protestante cujas raízes são anteriores à Reforma do século 16. Outro indivíduo incluído entre os pré-reformadores é Jerônimo Savonarola (1452-1498), um frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a imoralidade na sociedade e na Igreja, inclusive no papado. Governou a cidade por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como herege.

1.6 Movimentos Devocionais
Além dos movimentos que romperam com a Igreja, houve outros que permaneceram na mesma por se concentrarem na vida devocional, sem críticas aos dogmas católicos. Um deles foi o misticismo, bastante forte na Inglaterra, Holanda e especialmente na Alemanha (Reno). Os principais místicos dessa época foram Meister Eckhart (†1327); Tauler (†1361) e os “Amigos de Deus”, Henrique Suso (†1366) e mais tarde o célebre teólogo e líder eclesiástico Nicolau de Cusa (1401-1464). O misticismo dava ênfase à união com Deus, ao amor, à humildade e à caridade, e produziu uma belíssima literatura devocional.

Outro importante movimento foi a Devoção Moderna, que se manteve forte durante todo o século 15. Suas ênfases recaíam sobre a espiritualidade, a leitura da Bíblia, a meditação e a oração. Também valorizava a educação, criando ótimas escolas. Foi um movimento leigo, para ambos os sexos, e também exerceu grande influência sobre os reformadores protestantes. Os participantes eram conhecidos como Irmãos da Vida Comum. A obra mais importante e popular produzida por esse movimento foi o belíssimo livreto devocional A Imitação de Cristo (1418), escrito por Thomas à Kempis.

1.7 Os humanistas bíblicos
O interesse pelas obras da Antiguidade levou ao estudo da Bíblia nas línguas originais pelos chamados humanistas bíblicos. Os principais deles foram o italiano Lorenzo Valla (†1457), estudioso do Novo Testamento; o inglês John Colet (†1519), estudioso das epístolas paulinas; o alemão Johannes Reuchlin (†1522), notável hebraísta; o francês Lefèvre D’Étaples (†1536), tradutor do Novo Testamento; e o holandês Erasmo de Roterdã (1466?-1536), “o príncipe dos humanistas”, que publicou uma edição crítica do Novo Testamento grego com uma tradução latina, talvez a obra mais importante publicada no século 16, que serviu de base para as traduções de Lutero, Tyndale e Lefèvre e muito influenciou os reformadores protestantes. Esse retorno às Escrituras muito contribuiu para a Reforma do Século 16.

1.8 Situação Geral

O final da Idade Média foi marcado por muitas convulsões políticas, sociais e religiosas. Entre as políticas destacou-se a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a Inglaterra e a França, na qual tornou-se famosa a heroína Joana D’Arc. Houve também muitas revoltas camponesas, o declínio do feudalismo, a expansão das cidades e o surgimento do capitalismo. No aspecto social, havia fomes periódicas e o terrível flagelo da peste bubônica ou peste negra (1348). As guerras, epidemias e outros males produziam morte, devastação e desordem, ou seja, a ruptura da vida social e pessoal. O sentimento dominante era de insegurança, ansiedade, melancolia e pessimismo. Isso era ilustrado pela “dança da morte”, gravuras que se viam em toda parte com um esqueleto dançante.

Na área religiosa, houve a erosão do ideal da cristandade ou “corpus christianum”, a sociedade coesa sob a liderança da igreja e dos papas. A religiosidade era meritória, com missas pelos mortos, crença no purgatório e invocação dos santos e Maria. Ao mesmo tempo, havia grande ressentimento contra a igreja por causa dos abusos praticados e do desvio dos seus propósitos. Isso é ilustrado pela situação do papado no final do século 15 e início do século 16. Os chamados papas do renascimento foram mais estadistas e patronos das artes e da cultura do que pastores do seu rebanho. A instituição papal continuou em declínio, com muitas lutas políticas, simonia, nepotismo, falta de liderança espiritual, aumento de gastos e novos impostos eclesiásticos. Como papa Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja foi um generoso promotor das artes e da carreira dos seus filhos César e Lucrécia; Júlio II (1503-1513) foi um papa guerreiro, comandando pessoalmente o seu exército; Leão X (1513-1521), o papa contemporâneo de Lutero, teria dito quando foi eleito: “Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”.

2. A Reforma Protestante  – 1ª Parte

2.1 O contexto social e religioso

Vimos, no final da seção anterior, alguns elementos que caracterizavam a sociedade européia às vésperas da Reforma. Havia muita violência, baixa expectativa de vida, profundos contrastes socioeconômicos e um crescente sentimento nacionalista. Havia também muita insatisfação, tanto dos governantes como do povo, em relação à Igreja, principalmente ao alto clero e a Roma. Na área espiritual, havia insegurança e ansiedade acerca da salvação em virtude de uma religiosidade baseada em obras, também chamada de religiosidade contábil ou “matemática da salvação” (débitos = pecados; créditos = boas obras).

Foi bastante inusitado o episódio mais imediato que desencadeou o protesto de Lutero. Desde meados do século 14, cada novo líder do Sacro Império Romano era escolhido por um colégio eleitoral composto de quatro príncipes e três arcebispos. Em 1517, quando houve a eleição de um novo imperador, um dos três arcebispados eleitorais (o de Mainz ou Mogúncia) estava vago. Uma das famílias nobres que participavam desse processo, os Hohenzollern, resolveu tomar para si esse cargo e assim ter mais um voto no colégio eleitoral. Um jovem da família, Alberto, foi escolhido para ser o novo arcebispo, mas havia dois problemas: ele era leigo e não tinha a idade mínima exigida pela lei canônica para exercer esse ofício. O primeiro problema foi sanado com a sua rápida ordenação ao sacerdócio.

Quanto ao impedimento da idade, era necessária uma autorização especial do papa, o que levou a um negócio altamente vantajoso para ambas as partes. A família nobre comprou a autorização do papa Leão X mediante um empréstimo feito junto aos banqueiros Fugger, de Augsburgo. Ao mesmo tempo, o papa autorizou o novo arcebispo Alberto de Brandemburgo a fazer uma venda especial de indulgências, dividindo os rendimentos da seguinte maneira: parte serviria para o pagamento do empréstimo feito pela família e a outra parte iria para as obras da Catedral de São Pedro, em Roma. E assim foi feito. Tão logo foi instalado no seu cargo, Alberto encarregou o dominicano João Tetzel de fazer a venda das indulgências (o perdão das penas temporais do pecado). Quando Tetzel aproximou-se de Wittenberg, Lutero resolveu pronunciar-se sobre o assunto.

2.2 Martinho Lutero (1483-1546)

Martinho Lutero nasceu em 1483 na pequena cidade de Eisleben, na Turíngia, em um lar muito religioso. Seu pai trabalhava nas minas e a família tinha uma vida confortável. Inicialmente, o jovem pretendeu seguir a carreira jurídica, mas em 1505 defrontou-se com a morte em uma tempestade e resolveu abraçar a vida religiosa. Ingressou no mosteiro agostiniano de Erfurt, onde se dedicou a uma intensa busca da salvação. Em 1512, tornou-se professor da Universidade de Wittenberg, onde passou a ministrar cursos sobre vários livros da Bíblia, como Gálatas e Romanos. Isso lhe deu um novo entendimento acerca da “justiça de Deus”: ela não era simplesmente uma expressão da severidade de Deus, mas do seu amor que justifica o pecador mediante a fé em Jesus Cristo (Rom 1.17).

No dia 31 de outubro de 1517, diante da venda das indulgências por João Tetzel, Lutero afixou à porta da igreja de Wittenberg as suas Noventa e Cinco Teses, a maneira usual de convidar-se uma comunidade acadêmica para debater algum assunto. Logo, uma cópia das teses chegou às mãos do arcebispo, que as enviou a Roma. No ano seguinte, Lutero foi convocado para ir a Roma a fim de responder à acusação de heresia. Recusando-se a ir, foi entrevistado pelo cardeal Cajetano e manteve as suas posições. Em 1519, Lutero participou de um debate em Leipzig com o dominicano João Eck, no qual defendeu o pré-reformador João Hus e afirmou que os concílios e os papas podiam errar.

Em 1520, a bula papal Exsurge Domine (= “Levanta-te, Senhor”) deu-lhe sessenta dias para retratar-se ou ser excomungado. Os estudantes e professores da universidade queimaram a bula e um exemplar da lei canônica em praça pública. Nesse mesmo ano, Lutero escreveu várias obras importantes, especialmente três: À Nobreza Cristã da Nação Alemã,O Cativeiro Babilônico da Igreja e A Liberdade do Cristão. Isso lhe deu notoriedade imediata em toda a Europa e aumentou a sua popularidade na Alemanha. No início de 1521, foi publicada a bula de excomunhão, Decet Pontificem Romanum. Nesse ano, Lutero compareceu a uma reunião do parlamento, a Dieta de Worms, onde reafirmou as suas idéias. Foi promulgado contra ele o Edito de Worms, que o levou a refugiar-se no castelo de Wartburgo, sob a proteção do príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio. Ali, Lutero começou a produzir uma obra-prima da literatura alemã, a sua tradução das Escrituras.

2.3 A Reforma na Alemanha

A partir de então, a reforma luterana difundiu-se rapidamente no Sacro Império, sendo abraçada por vários principados alemães. Isso levou a dificuldades crescentes com os principados católicos, com o novo imperador Carlos V (1519-1556) e com o parlamento (Dieta). Na Dieta de 1526, houve uma atitude de tolerância para com os luteranos, mas em 1529 a Dieta de Spira reverteu essa política conciliadora. Diante disso, os líderes luteranos fizeram um protesto formal que deu origem ao nome histórico “protestantes”. No ano seguinte, o auxiliar e eventual sucessor de Lutero, Filipe Melanchton (1497-1560), apresentou ao imperador Carlos V a Confissão de Augsburgo, um importante documento que definia em 21 artigos a doutrina luterana e indicava sete erros que Lutero via na Igreja Católica Romana.

Os problemas político-religiosos levaram a um período de guerras entre católicos e protestantes (1546-1555), que terminaram com um tratado, a Paz de Augsburgo. Esse tratado assegurou a legalidade do luteranismo mediante o princípio “cujus regio, eius religio”, ou seja, a religião de um príncipe seria automaticamente a religião oficial do seu território. O luteranismo também se difundiu em outras partes da Europa, principalmente nos países nórdicos, surgindo igrejas nacionais luteranas na Suécia (1527), Dinamarca (1537), Noruega (1539) e Islândia (1554). Lutero e os demais reformadores defenderam alguns princípios básicos que viriam a caracterizar as convicções e práticas protestantes: sola Scripturasolo Christosola gratiasola fidessoli Deo gloria. Outro princípio aceito por todos foi o do sacerdócio universal dos fiéis.

2.4 Ulrico Zuínglio (1484-1531)

Ulrico Zuínglio recebeu uma educação esmerada, com forte influência humanista. Inicialmente, foi sacerdote em Glarus (1506) e em Einsiedeln (1516). Influenciado pelo Novo Testamento publicado por Erasmo de Roterdã, tornou-se um estudioso das Escrituras e um pregador bíblico. Com isso, foi chamado para trabalhar na catedral de Zurique em 1518. Quatro anos mais tarde, surgiram as primeiras divergências com a doutrina católica. Zuínglio defendeu o consumo de carne na quaresma e o casamento dos sacerdotes, alegando não serem essas coisas proibidas nas Escrituras. Ele propôs o princípio de que tudo devia ser julgado pela Bíblia.

Em 1523, houve o primeiro debate público em Zurique e a cidade começou a tornar-se protestante. O reformador escreveu os Sessenta e Sete Artigos – a carta magna da reforma de Zurique – nos quais defendeu a salvação somente pela graça, a autoridade da Escritura e o sacerdócio dos fiéis, bem como atacou o primado do papa e a missa. Esse movimento suíço, conhecido como a “segunda reforma”, deu origem às igrejas “reformadas”, difundindo-se inicialmente na Suíça alemã e no sul da Alemanha. Em 1525, o Conselho Municipal de Zurique adotou o culto em lugar da missa e em geral promoveu mudanças mais radicais do que as efetuadas por Lutero.

Como estava acontecendo na Alemanha, também na Suíça houve guerras entre católicos e protestantes. Em 1529, travou-se a primeira batalha de Kappel. No mesmo ano, a Dieta de Spira mostrou aos protestantes a necessidade de uma aliança contra os seus adversários. Para tanto, era necessário que resolvessem algumas diferenças doutrinárias. Isso levou aoColóquio de Marburg, convocado pelo príncipe Filipe de Hesse. Luteranos e reformados concordaram sobre a maior parte das questões doutrinárias, mas divergiram seriamente sobre o significado da Santa Ceia. Em 1531, Zuínglio morreu na segunda batalha de Kappel.

2.5 Os Reformadores Radicais (Anabatistas)

O terceiro movimento da Reforma Protestante surgiu na própria cidade de Zurique. Em 1522, homens como Conrado Grebel e Félix Mantz começaram a reunir-se com amigos para estudar a Bíblia. Inicialmente, eles apoiaram a obra de Zuínglio, mas a partir de 1524 passaram a condenar tanto Zuínglio quanto as autoridades municipais, alegando que a sua obra de reforma não estava sendo profunda o suficiente. Por causa de sua insistência no batismo de adultos, foram apelidados de “anabatistas”, ou seja, rebatizadores, sendo também chamados de radicais, fanáticos, entusiastas e outras designações. Por causa de suas atividades de protesto, nas quais chegavam a interromper cultos e celebrações da ceia, os líderes anabatistas sofreram punições de severidade crescente. Em 1526, Grebel morreu em uma epidemia, mas seu pai foi decapitado, Mantz foi afogado e outro líder, Jorge Blaurock, foi expulso da cidade.

O movimento logo se difundiu nas vizinhas Alemanha e Áustria e em outras partes da Europa. Um importante líder em Estrasburgo foi Miguel Sattler (c.1490-1527), que presidiu a conferência de Schleitheim (1527), na qual os anabatistas aprovaram a Confissão de Fé de Schleitheim. Essa confissão definiu os princípios anabatistas básicos: ideal de restauração da igreja primitiva; igrejas vistas como congregações voluntárias separadas do Estado; batismo de adultos por imersão; afastamento do mundo; fraternidade e igualdade; pacifismo; proibição do porte de armas, cargos públicos e juramentos. Os anabatistas foram os únicos protestantes do século 16 a defenderem a completa separação entre a igreja e o estado.

Os anabatistas adquiriram uma reputação negativa por causa de acontecimentos ocorridos na cidade de Münster (1532-1535). Influenciados por Melchior Hoffman, que anunciou o fim do mundo e a destruição dos ímpios, alguns anabatistas implantaram uma teocracia intolerante naquela cidade alemã. Finalmente, foram todos mortos por um exército católico. Já na Holanda, o movimento teve um líder equilibrado e capaz na pessoa de Menno Simons (1496-1561), do qual vieram os menonitas. Outro líder de expressão foi Jacob Hutter (†1536), na Morávia. Os menonitas e os huteritas viviam em colônias, tendo tudo em comum (ver Atos 2.44; 4.32). Cruelmente perseguidos em toda a Europa, muitos deles eventualmente emigraram para a América do Norte.

2.6 João Calvino (1509-1564)

João Calvino nasceu em Noyon, no nordeste da França. Seu pai, Gérard Cauvin, era secretário do bispo e advogado da igreja naquela cidade; sua mãe Jeanne Lefranc, morreu quando ele ainda era uma criança. Após os primeiros estudos em sua cidade, Calvino seguiu para Paris, onde estudou teologia e humanidades (1523-1528). A seguir, por determinação do pai, foi estudar direito nas cidades de Orléans e Bourges (1528-1531). Com a morte do pai, retornou a Paris e deu prosseguimento aos estudos humanísticos, publicando sua primeira obra, um comentário do tratado de Sêneca Sobre a Clemência.

Calvino converteu-se provavelmente em 1533. No dia 1º de novembro daquele ano, seu amigo Nicholas Cop fez um discurso de posse na Universidade de Paris repleto de idéias protestantes. Calvino foi considerado o co-autor do discurso e os dois amigos tiveram de fugir para salvar a vida. Calvino foi para a cidade de Angouleme, onde começou a escrever a sua obra mais importante, Instituição da Religião Cristã ou Institutas, publicada em Basiléia em 1536 (a última edição seria publicada somente em 1559). Após voltar por breve tempo ao seu país, Calvino decidiu fixar-se na cidade protestante de Estrasburgo, onde atuava o reformador Martin Butzer (1491-1551). No caminho, ocorreu um episódio marcante. Impossibilitado de seguir diretamente para Estrasburgo por causa de guerra entre a França e a Alemanha, o futuro reformador fez um longo desvio, passando por Genebra, na Suíça francesa. Essa cidade havia abraçado o protestantismo reformado há apenas dois meses (maio de 1536), sob a liderança de Guilherme Farel (1489-1565). Este, sabendo que o autor das Institutas estava de passagem pela cidade, o “convenceu” a permanecer ali e ajudá-lo.

2.7 A Reforma em Genebra

Logo, Calvino e Farel entraram em conflito com os magistrados de Genebra e dois anos depois foram expulsos. Calvino seguiu então para Estrasburgo, onde passou os três anos mais felizes e produtivos da sua carreira (1538-1541). Naquela cidade, ele pastoreou uma igreja de refugiados franceses, casou-se com a viúva Idelette de Bure (†1549), lecionou na academia de João Sturm, participou de conferências religiosas ao lado de Martin Butzer e publicou algumas obras importantes, entre elas a segunda edição das Institutas e o Comentário de Romanos, o primeiro dos muitos que escreveu.

Eventualmente, os magistrados de Genebra insistiram no seu retorno. Calvino aceitou com a condição de que pudesse escrever a constituição da Igreja Reformada de Genebra. Essa importante obra, as Ordenanças Eclesiásticas, previa quatro categorias de oficiais: pastores, encarregados da pregação e dos sacramentos; doutores para o estudo e ensino da Bíblia; presbíteros, com funções disciplinares; e diáconos, encarregados da beneficência. Os pastores e os doutores formavam a Companhia dos Pastores; os pastores e os presbíteros integravam o Consistório, uma espécie de tribunal eclesiástico. Calvino teve um relacionamento tenso com as autoridades municipais até 1555. No final desse período, em 1553, o médico espanhol Miguel Serveto foi condenado e executado por heresia. Calvino teve uma participação nesse episódio, lamentada por seus herdeiros, o que não anula a sua grande obra como reformador, escritor, teólogo e líder eclesiástico. Em 1559, um ano especialmente significativo, o reformador tornou-se cidadão de Genebra, fundou a sua Academia, embrião da Universidade de Genebra, e publicou a última edição das Institutas.

A visão do reformador francês era tornar Genebra uma cidade-cristã-modelo através da reorganização da Igreja, de um ministério bem preparado, de leis que expressassem uma ética bíblica e de um sistema educacional completo e gratuito. O resultado foi que Genebra tornou-se um grande centro do protestantismo, preparando líderes reformados para toda a Europa e abrigando centenas de refugiados. O calvinismo veio a ser o mais completo sistema teológico protestante, tendo por princípio básico a soberania de Deus e suas implicações, soteriológicas e outras. Foi essa a origem das Igrejas reformadas (continente europeu) ou presbiterianas (Ilhas Britânicas). Os principais países em que se difundiu o movimento reformado foram, além da Suíça e da França, o sul da Alemanha, a Holanda, a Hungria e a Escócia.

Calvino também se notabilizou como um erudito bíblico. Escreveu comentários sobre quase todo o Novo Testamento e os principais livros do Antigo Testamento. Seus sermões e preleções também expuseram amplamente as Escrituras. Além disso, escreveu muitos opúsculos, tratados e cartas. Mas a maior das suas obras são as Institutas, nas quais ele expôs todos os aspectos da doutrina cristã, apelando às Escrituras e ao testemunho dos antigos pais da igreja. Em muitas de suas obras, se vê uma mão que sustenta um coração, e ao redor as palavras Cor meum tibi offero Domine, prompte et sincere (“O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero”).

2.8 Implicações Práticas

Os reformadores não estavam buscando inovar, mas restaurar antigas verdades bíblicas que haviam sido esquecidas ou obscurecidas pelo tempo e pelas tradições humanas. Sua maior contribuição foi chamar a atenção das pessoas para a importância das Escrituras e seus grandes ensinos, especialmente no que diz respeito à salvação e à vida cristã. Para que as Igrejas Evangélicas atuais possam manter-se fiéis à sua vocação, é preciso que julguem tudo pelas Escrituras, acolhendo o que é bom e lançando fora o que é mau. Os reformadores nos mostraram que o critério da verdade não são os ensinos humanos, nem a experiência espiritual subjetiva, mas o Espírito Santo falando na Palavra e pela Palavra.

3. A Reforma Protestante  – 2ª Parte

3.1 A Reforma na Inglaterra

Vários fatores contribuíram para a introdução da Reforma Protestante na Inglaterra: o anticlericalismo de uma grande parcela do povo e dos governantes, as idéias do pré-reformador João Wycliff, a penetração de ensinos luteranos a partir de 1520, o Novo Testamento traduzido por William Tyndale (1525) e a atuação de refugiados que voltaram de Genebra. Todavia, quem deu o passo decisivo para que a Inglaterra começasse a tornar-se protestante foi o rei Henrique VIII.

Henrique VIII (1491-1547) começou a reinar em 1509. Sendo muito católico, em 1521 escreveu um folheto contra Lutero que lhe valeu o título de “defensor da fé”. Era casado com a princesa espanhola Catarina de Aragão, viúva do seu irmão, que não conseguiu dar-lhe um filho varão, mas somente uma filha, Maria. Henrique pediu ao papa Clemente VII que anulasse o seu casamento com Catarina para que pudesse casar-se com Ana Bolena (Anne Boleyn), mas o papa não pode atendê-lo nesse desejo. Uma das principais razões foi o fato de que Catarina era tia do sacro imperador germânico Carlos V. Em 1533, Thomas Cranmer (1489-1556) foi nomeado arcebispo de Cantuária e poucos meses depois declarou nulo o casamento do rei. Em 1534, o parlamento aprovou o Ato de Supremacia, pelo qual a Igreja Católica inglesa desvinculou-se de Roma e o rei foi declarado “Protetor e Único Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra.” O bispo John Fisher e o ex-chanceler Thomas More opuseram-se a essas medidas e foram executados (1535); os numerosos mosteiros do país foram extintos e suas propriedades confiscadas (1536-1539). Nos anos seguintes, Henrique ainda teria outras quatro esposas: Jane Seymour, Ana de Cleves, Catarina Howard e Catarina Parr.

Henrique morreu na fé católica e foi sucedido no trono por Eduardo VI (1547-1553), o filho que teve com Jane Seymour. Os tutores do jovem rei implantaram a Reforma na Inglaterra e puseram fim às perseguições contra os protestantes. Foram aprovados dois importantes documentos escritos pelo arcebispo Cranmer, o Livro de Oração Comum (1549; revisto em 1552) e os Quarenta e Dois Artigos (1553), uma síntese das teologias luterana e calvinista. Eduardo era doentio e morreu ainda jovem, sendo sucedido por sua irmã Maria Tudor (1553-1558), conhecida como “a sanguinária”, filha de Catarina de Aragão. Maria perseguiu os líderes protestantes e muitos foram levados à fogueira. Os mártires mais famosos foram Hugh Latimer, Nicholas Ridley e Thomas Cranmer. Muitos outros, os chamados “exilados marianos”, foram para Genebra, Estrasburgo e outras cidades protestantes.

Com a morte de Maria, subiu ao trono sua meio-irmã Elizabete I (1558-1603), filha de Ana Bolena, em cujo reinado a Inglaterra tornou-se definitivamente protestante. Em 1563, foi promulgado o Ato de Uniformidade, que aprovou os Trinta e Nove Artigos. O resultado foi o acordo anglicano, que reuniu elementos das principais teologias evangélicas, bem como traços católicos, especialmente na área da liturgia. Além dos anglicanos, havia outros grupos protestantes na Inglaterra, como os puritanos, presbiterianos e congregacionais. Os puritanos surgiram no reinado de Elizabete e foram assim chamados porque reivindicavam uma Igreja pura em sua doutrina, culto e forma de governo. Reprimidos na Inglaterra, muitos puritanos foram para a América do Norte, estabelecendo-se em Plymouth (1620) e Boston (1630), na Nova Inglaterra. Outro grupo protestante inglês foram os batistas, surgidos a partir de 1607 sob a liderança de John Smyth e Thomas Helwys. Este fundou em 1612 a primeira igreja batista geral.

No século 17, no contexto da guerra civil entre o rei Carlos I e um parlamento puritano, foi convocada a Assembléia de Westminster (1643-1649). Essa célebre assembléia elaborou uma série de documentos calvinistas para a Igreja da Inglaterra, entre os quais a Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve, que se tornaram os principais símbolos confessionais das Igrejas reformadas ou presbiterianas.

3.2 A Reforma na Escócia

O protestantismo começou a ser difundido na Escócia por homens como Patrick Hamilton e George Wishart, ambos martirizados. Todavia, o presbiterianismo foi introduzido graças aos esforços do reformador John Knox (†1572), um discípulo de Calvino que, após passar alguns anos em Genebra, retornou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o parlamento escocês criou a Igreja da Escócia (presbiteriana). Knox fez oposição tenaz à rainha católica Maria Stuart (1542-1587), prima de Elizabete, que viveu na França (1548-1561) e voltou à Escócia para tomar posse do trono. A aceitação do protestantismo ocorreu no contexto da luta pela independência do domínio francês. Alguns anos mais tarde, Maria Stuart teve de fugir e buscar refúgio na Inglaterra, onde foi executada por ordem de Elizabete em 1587.

Foi na Escócia que surgiu o conceito político-religioso de “presbiterianismo”. Os reis ingleses e escoceses sempre foram firmes defensores do episcopalismo, ou seja, de uma Igreja governada por bispos. A razão disso é que, sendo os bispos nomeados pelos reis, a Igreja seria mais facilmente controlada pelo estado e serviria aos interesses do mesmo. À luz das Escrituras, os presbiterianos insistiram em uma Igreja governada por oficiais eleitos pela comunidade, os presbíteros, tornando assim a Igreja livre da tutela do Estado. Foi somente após um longo e tumultuado processo que o presbiterianismo implantou-se definitivamente na Escócia.

3.3 A Reforma na França

O movimento reformado francês surgiu na década de 1530. Inicialmente tolerante, o rei Francisco I (1515-1547) eventualmente mostrou-se hostil contra os reformados. Henrique II (1547-1559) foi ainda mais severo que o seu pai. Em 1559, reuniu-se o primeiro sínodo nacional da Igreja Reformada da França, que aprovou a Confissão Galicana. Em 1561, havia duas mil congregações reformadas no país, compostas de artesãos, comerciantes e até mesmo de algumas famílias nobres, como os Bourbon e os Montmorency. Os reformados franceses, conhecidos como huguenotes, estavam concentrados principalmente no oeste e sudoeste do país, e recebiam decidido apoio de Genebra. Ao norte e leste estava a facção ultracatólica liderada pela poderosa família Guise-Lorraine.

No reinado de Francisco II (1559-1560), os Guise controlaram o governo. Quando Carlos IX (1560-1574) tornou-se rei, sendo ainda menor, sua mãe Catarina de Médici assumiu a regência, mostrando-se inicialmente tolerante para com os huguenotes. Tentando conciliar as duas facções, ela promoveu um encontro de católicos e protestantes, o Colóquio de Poissy, em 1561. Com o fracasso desse encontro, houve um longo período de guerras religiosas (1562-1598), cujo episódio mais chocante foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572). Centenas de huguenotes achavam-se em Paris para o casamento da filha de Catarina com o nobre protestante Henrique de Navarra. Na calada da noite, os huguenotes foram assassinados à traição enquanto dormiam, entre eles o seu principal líder, almirante Gaspard de Coligny. Nos dias seguintes, muitos milhares foram mortos no interior da França. Mais tarde, quando o nobre huguenote tornou-se rei, com o título de Henrique IV, ele promulgou em favor dos seus correligionários o Edito de Nantes (1598), concedendo-lhes uma tolerância limitada. Esse edito seria revogado pelo rei Luís XIV em 1685, dando início a um novo período de duras provações para os reformados franceses.

3.4 A Reforma nos Países Baixos

Os Países Baixos eram parte do Sacro Império Germânico e depois ficaram sob o domínio da Espanha. Durante o reinado do imperador Carlos V, surgiram naquela região luteranos, anabatistas e principalmente calvinistas, por volta de 1540. Desde o início foram objeto de intensas perseguições, tendo a repressão aumentado sob o rei Filipe II (1555) e o governador Duque de Alba (1567). A revolta contra a tirania espanhola foi liderada pelo alemão Guilherme de Orange, grande defensor da plena liberdade religiosa, que seria assassinado em 1584. Eventualmente, os Países Baixos dividiram-se em três nações: Bélgica e Luxemburgo (católicas) e Holanda (protestante).

A Igreja Reformada Holandesa foi organizada na década de 1570. No início do século 17, surgiu uma forte controvérsia por causa das idéias de Tiago Armínio. O Sínodo de Dort (1618-1619) rejeitou as idéias de Armínio e afirmou os chamados “cinco pontos do calvinismo”, cujas iniciais formam em inglês a palavra “tulip” (tulipa): Depravação total ( Total depravity), Eleição incondicional (Unconditional election), Expiação limitada (Limited atonement), Graça irresistível (Irresistible Grace) e Perseverança dos santos (Perseverance of the saints).

3.5 A Contra-Reforma

Ao analisarem as ações da Igreja Católica Romana após o surgimento do protestantismo, os historiadores falam em dois aspectos: Contra-Reforma e Reforma Católica. O primeiro foi o esforço da Igreja Romana para reorganizar-se e lutar contra o protestantismo. Essa reação ocorreu tanto no plano dogmático quanto político-militar. Já a Reforma Católica revelou a preocupação de corrigir certos problemas internos do catolicismo em resposta às críticas dos protestantes e de outros grupos.

Foram vários os elementos dessa reação. Na Espanha, houve notáveis manifestações de uma rica espiritualidade mística, cujos representantes mais destacados foram Teresa de Ávila e João da Cruz. Além do misticismo espanhol, outro sinal da revitalização católica foi o surgimento de várias ordens religiosas, das quais a mais importante foi a Sociedade de Jesus, fundada pelo espanhol Inácio de Loiola (1491-1556) e oficializada pelo papa em 1540. Além dos votos usuais de pobreza, castidade e obediência aos superiores, os jesuítas faziam um voto adicional de submissão incondicional ao papa. Seu objetivo era a expansão e o fortalecimento da fé católica através de missões, educação e combate à heresia. Os jesuítas exerceram forte influência sobre governantes e contribuíram decisivamente para a supressão do protestantismo em várias regiões da Europa, como a Espanha e a Polônia.

O instrumento mais eficaz tanto da Contra-Reforma quanto da Reforma Católica foi o Concílio de Trento, que se reuniu em três séries de sessões entre 1545 e 1563. Seus decretos rejeitaram explicitamente as doutrinas protestantes e oficializaram o tomismo (a teologia de Tomás de Aquino), a Vulgata Latina e os livros denominados apócrifos ou deuterocanônicos. Outros instrumentos da Contra-Reforma foram o Índice de Livros Proibidos (Index Librorum Prohibitorum, 1559) e a Inquisição, especialmente em suas versões espanhola e romana. Como expressão do dinamismo católico nesse período, as ordens dos franciscanos, dominicanos e jesuítas realizaram uma grande obra missionária no Oriente e nas Américas.

No território do Sacro Império, os conflitos entre católicos e protestantes continuaram por muitas décadas, atingindo o seu auge na tenebrosa Guerra dos Trinta Anos, que envolveu metade do continente europeu. Essa guerra terminou com a Paz de Westfália (1648), que fixou definitivamente as fronteiras político-religiosas da Europa e marcou o final do período da Reforma.

3.6 Implicações Práticas

A história da Reforma nem sempre é agradável e inspiradora. Por causa das profundas conexões entre elementos religiosos e políticos, esse período foi marcado por muita violência em nome da fé. Porque a religião é uma coisa muito importante para as pessoas, as paixões que desperta podem se tornar terrivelmente destrutivas. Os erros cometidos nessa área por diferentes grupos nos séculos 16 e 17 nos servem de advertência e de estímulo para a prática da caridade cristã e da tolerância, conforme o exemplo de Cristo. Podemos, sem abrir mão de nossas convicções, respeitar os que pensam diferente de nós.

Ao mesmo tempo, nos impressionamos com o heroísmo de tantos irmãos nossos da época da Reforma, que por causa de sua fé enfrentaram muitas provações e até mesmo mortes cruéis. O evangelho já não exige esse tipo de sacrifício da maioria dos cristãos do Ocidente, mas isso não significa que estamos livres de grandes desafios. São outras as maneiras pelas quais a nossa fé é testada no tempo presente. Viver de acordo com os princípios e os valores do Reino de Deus continua sendo uma prova difícil, mas necessária, para todos os cristãos.

Referências Bibliográficas
 Como fontes para estudos e pesquisas complementares, sugerimos as seguintes obras, em português: 
  • BETTENSON, Henry, Documentos da igreja cristã (São Paulo: ASTE, 1967); 3ª ed. revista, corrigida e atualizada (São Paulo: ASTE/Simpósio, 1998). Uma ótima coletânea de fontes primárias dos diferentes períodos da história da igreja.
  • CAIRNS, Earle E., O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã (São Paulo: Vida Nova, 1988). Uma das melhores histórias da igreja em um só volume disponíveis em português.
  • CLOUSE, Robert G., PIERARD, Richard V. e YAMAUCHI, Edwin M. Dois reinos: a igreja e a cultura interagindo ao longo dos séculos. São Paulo: Cultura Cristã, 2003 (1993). Obra de grande envergadura, com quase 600 p. no texto principal. Narrativa rica e abrangente.
  • DOWLEY, Tim, ed., Atlas Vida Nova da Bíblia e da história do cristianismo (São Paulo: Vida Nova, 1997). Belíssima edição em cores, com excepcional qualidade gráfica. Útil também para o estudo da história bíblica (Antigo e Novo Testamento).
  • GONZÁLEZ, Justo L., Uma história ilustrada do cristianismo, 10 vols. (São Paulo: Vida Nova). Os dois volumes da edição em inglês foram transformados em dez pequenos volumes na edição portuguesa. Agradável de ler e, como diz o título, fartamente ilustrada.
  • MATOS, Alderi Souza de., A caminhada cristã na história: a Bíblia, a igreja e a sociedade ontem e hoje (Viçosa, MG: Ultimato, 2005). Coletânea de textos breves sobre temas variados da história da igreja.
  • NEILL, Stephen, História das missões (São Paulo: Vida Nova, 1989). Uma das melhores abordagens de um aspecto específico da história da igreja. O autor foi missionário na Índia e na África.
  • NICHOLS, Robert H., História da igreja cristã, 11ª ed. rev. (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000). Obra mais modesta que as anteriores, mas ótima para quem está começando a estudar a história da igreja. O autor é presbiteriano.
  • NOLL, Mark A., Momentos decisivos na história do cristianismo, trad. Alderi S. Matos (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000). Ao abordar doze eventos especialmente significativos, o autor acaba por incluir boa parte dos tópicos mais importantes da história da igreja. Contém um apêndice sobre o Brasil, escrito pelo tradutor.
  • WALKER, W., História da igreja cristã, 2 vols. (São Paulo: ASTE, 1967). Obra excelente, mas um tanto desatualizada. A edição mais recente em inglês, revista por três outros autores (Norris, Lotz e Handy) e lançada em 1985, ainda não foi publicada em português.
  • WALTON, Robert C., História da igreja em quadros (São Paulo: Editora Vida, 2000). As tabelas e esboços proporcionam um instrumento simples e agradável para estudar a história da igreja.
  • WILLIAMS, Terri, Cronologia da história eclesiástica em gráficos e mapas (São Paulo: Vida Nova, 1993). Os ótimos gráficos permitem visualizar facilmente alguns dos temas mais importantes da história da igreja.